sábado, junho 04, 2005

E porque a discussão deve continuar...

Escrito por Elise às 12:12 da manhã

10 Comments:

Fernando Pinto é um brasileiro gestor de uma empresa pública; Campos e Cunha é ministro de Portugal.

Mas essa, caro Dragonesso, é a menor importância. O Banco de Portugal não é uma empresa, é o banco central do Estado. Pertence tanto ao Estado que até faz diplomas jurídicos com valor legal - os "avisos". Os directores fizeram um plano de pensões à maneira deles e deram também benefícios aos empregados (a taxa de juro para empréstimos é irrisória...) - um mandato e reforma completa.

Todavia, a seguir, Cunha vai para o Governo e decide manter a reforma, estando a trabalhar para a mesma entidade: o Estado - e não me venham com as tecnicalidades do estatuto do banco porque já a desmontei... Mas ainda mais: o Governo em que participa, certamente com a concordância daquele que assina qualquer lei relativa a receitas e despesas, decide, numa orquestração demagógica, para distrair o povo dos sacrifícios, que os políticos também vão sofrer nas reformas (os outros, que para os actuais criarão um regime especial...). Assim, decidiram que o povo terá as reformas antecipadas a partir dos 55 anos suspensas; enquanto Campos e Cunha manterá a sua enquanto governa.

A demagogia do Governo ficou exposta. Caíram as calças e nós vimos a sujidade...
Anonymous Anónimo, at junho 04, 2005 1:27 da manhã  
Mas isso não invalida nada do que a Elise disse. Pelo contrário. O grande desfasamento entre as remunerações (de topo) no sector privado e os dos políticos, leva, por um lado, a que os melhores se afastem, e, por outro, a que os menos bons se deixem "corromper" pela necessidade de conseguir o "máximo" possível.
Tem razão a Elise: políticos de saldo.
Azurara
Blogger Agnelo Figueiredo, at junho 04, 2005 2:43 da manhã  
Viva, Eliose!

Respondendo por interposta pessoa...

Só a título de brincadeira, porque estas coisas não podem ser levadas muito sério.

Quanto a António Borges - meu correlegionário - sempre lhe digo que mais vale que se ache bom demais para se meter na política ou que, pelo que se ganha, não vale a pena lá ir.

É que, pela inabilidade política que demonstrou e pelas terríveis gaffes a que deu corpo no último Congresso do PSD, o melhor é que se deixe ficar onde está, que está bem. E nós sem ele.

***

Mas há que não confundir as coisas. Eu não estou - e julgo que a maioria das pessoas também não contra os vencimentos que os políticos auferem. A maioria deles até aufere vencimento se treta. Para falar com franqueza, eu não me daria ao incómodo de me candidatar à AR pelo vencimento. Ficaria a perder, certamente.

Portanto, não é por isso. Aliás, se as pessoas estiverem preocupadas com isso, eu despreocupo-me por completo, porque não alinho em révanches ditadas pela invídia, tão comum aos portugueses e que faz com que o país não progrida, porque se perfilha a peregrina ideia de que o nivelamento tem que ser feito e, para mais, por baixo. Ora, isto é a negação do progresso e... muito feio, sob o ponto de vista da convivência social.

O que me afronta é todos os sacrifícios serem "depositados" nas costas do povoléu e os políticos, que não têm feito trabalho minimamente meritório para fazerem jus a determinadas regalias, as mantenham.

É o caso da escandaleira das reformas aos 8 anos de serviço - verdadeira aberração, que qualquer político devia ter o pudor suficiente para não aceitar sem, pelo menos, ficar ruborizado e que deixaria Eça de Queirós, ele sim, rubro de cólera. E outras.

Mas, já que estamos em momento de aperto e é necessário reduzir despesas e acabar com encargos supérfluos, por que não mostrarem os políticos as boas e rectas intenções de que estão animados, começando pela sua casa?

E, desde logo, acabarem, de vez, com outra escandaleira, que é a de termos 230 deputados para 10 milhões de portugueses. Se fôssemos a respeitar esta proporção, quantos congressistas haveria nos States, quantos deputados haveria no Parlanmento Europeu? Ridículo. Simplesmente ridículo. Ainda mais, quando sabemos que, dos 230, não mais do que cerca de uma centena têm, na realidade, funções específicas e que não podem deixar de ser exercidas, enquanto os restantes pouco mais serão do que deputados de "rabo". Que senta e levanta, que levanta e senta.

Repito:

Se estamos em tempo de sacrifício, então que nos sacrifiquemos todos, porque é imoral que o sacrifício de tantos não seja correspondido pelo de alguns, sendo que, desses alguns, é a responsabilidade primária pelo estado a que o País chegou.

E a teoria - que acolho - de que os políticos devem ser bem pagos e ter regalias, para que seja atractiva a função política, é aplicável, sim, em condições normais, pelo que não é chamada à discussão neste momento.

Neste momento, em que as coisas estão feias e o buraco em que todos nos podemos enfiar a qualquer momento está ali ao lado, à nossa beira, considerações dessas parecem-me fora de propósito.

É quase como discutir a ética subjacente à posição do mexilhão, alapado na rocha, com toda a calma, na varanda da nossa, tomando um refresco, ao mesmo tempo que a casa arde e vai desabando por todos os lados.

Primeiro, o que primeiro deve merecer a nossa atenção. Depois, o resto. Porque se a casa arder e desabar completamente... que se lixe o mexilhão...

Cumprimentos

Ruben
Blogger Ruvasa, at junho 04, 2005 8:20 da manhã  
Reduzir o número de deputados é consensual.

Reduzir o número de câmaras pela fusão de municipios é consensual.

Aumentar os ordenados dos cargos públicos para que o ministro das finanças não tenha que acumular uma reforma para ficar a ganhar tanto como um eurodeputado!

e por falar em eurodeputados...
No outro dia no Eixo do Mal alguém deixou a pergunta!

Que andam os nossos eurodeputados a fazer? Alguém sabe?
A mim parece-me que ninguém quer saber!
Blogger Dragonesso, at junho 04, 2005 9:22 da manhã  
Não está em causa a medida do vencimento enquanto o político está no activo.
Concordo que deva ser bem pago, se bem que não seja o mérito a ser recrutado, mas o aparelhismo.

Creio que a indignação que atravessa a sociedade tem a ver com as reformas e as subvenções pagas, a maior parte das vezes em acumulação com os vencimentos de quem está no activo. E estas verbas - milionárias para o padrão português - continuam a pingar, mesmo depois de cessar actividade.

A posição de crítica em relação às subvenções e reformas não invalida a posição de princípio assumida pelo autor do post. Que se cumprimenta com respeito e um abraço.
Anonymous Anónimo, at junho 04, 2005 5:29 da tarde  
"Todos tralham e Todos têm um...pouco de razão"

1. Lembro-me que Wiliiam Clinton ganhava como Presidente dos EUA, 200.000 dólares / ano. O que comparado com qualquer CEO de uma das 500 maiores empresas dos EUA é uma banalidade.

2. Só vai para a carreira política quem quer. Se acham que os salários são baixos, a gente (eu, pelo menos) dispenso fretes!

3. Quanto à falaciosa ideia de que ganham mal, por isso é que se deixam corromper: É PURA MENTIRA. Pois se houvesse Lei e Tribunais, eram apanhados em casos de corrupção e iam com os "costados" para a cadeia!

4. Toda a gente sabe, que muitos políticos "fazem o sacrifício" de estar lá 4 ou 8 anos, para se exporem e para mais tarde virem ganhar 3, 4, 10 vezes mais no privado. Portanto, "a vida pública" é encarada como publicidade.

4. O Parlamento holandês tem cerca de 100 deputados, para uma população de 15 milhões de habitantes.

5. Poderei continuar....o tema é vastíssimo!
Anonymous Anónimo, at junho 04, 2005 6:54 da tarde  
"Todos tralham "

Todos ralham.....
Anonymous Anónimo, at junho 04, 2005 6:54 da tarde  
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Blogger Dragonesso, at junho 04, 2005 10:43 da tarde  
O salário do actual presidente foi duplicado... $400000. Mas os problemas dos americanos é lá com eles!

O que eu quero é acabar com a actividade política em part-time. E quero pessoas de qualidade. Se competirmos a sério com os privados, de certeza que muitas das pessoas com qualidade vão cair para o nosso lado. E com bons gestores, e uma administração mais eficiente, temos tudo para triunfar.

E para terminar, outra grande diferença entre nós e os USA... é que todos os presidentes dos Estados Unidos deram provas da sua competência antes de assumir o cargo! Lá não há paraquedistas!
Blogger Dragonesso, at junho 04, 2005 10:47 da tarde  
Caro Dragonesso,

"provas da sua competência".....não sei! E olhe, até sou dos que defendo o "farol americano"

Lembro-me de James Carter! Foi uma quase catástrofe, para a América!
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Continuo na minha, deve haver uma "noção de serviço público". Acha que o Dick Cheney (goste-se ou não), não ganha muito menos do que ganhava na Halliburton?

A "nossa casa": o Prof. Marcelo quando foi líder do PSD, "perdeu" ou deixou de ganhar milhares de contos por mês....isto é "devoção à causa pública". Mas, não vejo muitos exemplos.

E chamar "gestores" ou "admnistradores" a indivíduos que nem contas sabem fazer (o Eng. Guterres apesar da média de 17 valores, no Instituto superior Técnico), mandava os outros fazerem contas......

Ahhh, mas sabem bem ver o que têm na conta....bancária!
Anonymous Anónimo, at junho 04, 2005 11:21 da tarde  

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