sábado, junho 11, 2005

O VIH em África e Karol Wojtyla

Uma das maiores acusações que fazem a João Paulo II refere-se à postura deste perante o uso do preservativo. Muitos insistem em culpar Karol pela epidemia da Sida em África: "ah e tal, se ele tivesse aprovado o preservativo"...

Falemos de factos. De acordo com a UNAIDS cerca de 2/3 dos seropositivos/doentes com SIDA vivem em África. Por exemplo, na Swazilandia, um pequeno país com apenas 2 milhões de pessoas, a taxa de incidência de VIH é de 42%. Curiosamente neste país, a percentagem de católicos é somente de 5%. No Botswana, onde a taxa de incidência de VIH é de 37%, apenas 4% da população é católica. Na África do Sul, onde 22% da população são seropositivos ou doentes com SIDA, os católicos representam uns meros 6%. Karol teria assim uma influência tão grande sobre os não católicos?

Ainda não estão convencidos? Abordemos então a questão do uso do preservativo como única arma contra o VIH em África. O preservativo só é eficaz se usado correctamente e em todas as situações de risco. Acham que tais atitudes e comportamentos serão possíveis na África Subsariana, tendo em conta o nível e o desenvolvimento sócio-económico? E conseguem imaginar centenas de homens e mulheres a caminharem vários kilómetros para obter preservativos em estabelecimentos de saúde? Como fornecer preservativos e informar correctamente milhares de pessoas que vivem em condições sub-humanas?

Não devemos esquecer que as taxas de incidência da SIDA resultam de comportamentos de risco como a poligamia e de crimes como a violação de mulheres e raparigas.

Um bom exemplo é o do Uganda. O governo implementou um programa baseado na doutrina católica e no regresso aos valores tradicionais: promoveu sobretudo a abstinência e a monogamia. E só em último caso, aconselhava o uso de preservativo (ABC program). As taxas de incidência de VIH baixaram de 15% (em 1991) para 5% (2001).

Curioso como um programa de baixo custo teve uma eficácia apreciável, enquanto que em muitos outros países ocidentais com programas de alto custo não se conseguem resultados tão positivos.

Karol tinha razão. A abstinência e a monogamia são as armas mais eficazes em relação ao VIH. O ser humano também tem a responsabilidade de controlar os seus impulsos e adoptar comportamentos mais saudáveis, especialmente quando a sua sobrevivência está em risco. O preservativo é útil na luta contra a SIDA, mas mais importante é a mudança de atitudes e de comportamentos de risco.



Escrito por Elise às 7:14 da tarde

6 Comments:

Já o tinha lido ontem. É de facto, muito bom o post!

Bom domingo tb para Ti
Amiga Elise :D

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Beijos
Sulista
Anonymous Anónimo, at junho 12, 2005 10:34 da manhã  
Um excelente texto! Gostei de ler! E, finalmente alguém com claridade suficiente de espírito, para pôr o dedo na ferida!

Não deitemos as culpas a quem não as tem.

Um abraço carinhoso e um bom domingo para todos :-)
Anonymous Anónimo, at junho 12, 2005 10:45 da manhã  
Obrigada, um bom domingo às duas! :)
Blogger Elise, at junho 12, 2005 10:51 da manhã  
Concordo consigo. Também já escrevi um post algures sobre isso, em que referi até que se por acaso o Vaticano defendesse o uso do preservativo ninguém sabe se os católicos que se abstêm não passavam a ter sexo com muito mais frequência, o que poderia fazer explodir as taxas de incidência.
Blogger Luis Gaspar, at junho 13, 2005 1:13 da manhã  
:)
Anonymous Anónimo, at junho 13, 2005 9:05 da manhã  
Muito bem — se bem que também é lícito perguntar até que ponto é que a mensagem de fidelidade e abstinência cola às sociedades africanas sub-desenvolvidas.

Sobretudo é importante não desviar as atenções do problema. Os ódios de estimação não servem para tudo...
Blogger AA, at junho 14, 2005 2:26 da tarde  

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