
quinta-feira, abril 13, 2006
Vulgarização da Violência?
O Supremo Tribunal de Justiça considera os castigos corporais aceitáveis. As manifestações de repúdio não tardaram em surgir: aqui, aqui, aqui e aqui. No Acordão (via O Insurgente) do STJ referente a este caso podemos ler:
Considero as estaladas uma violência. Fechar uma criança (normal ou deficiente) num quarto escuro é também uma agressão humilhante, desnecessária e contraproducente.
Este acordão revela alguns aspectos preocupantes da nossa sociedade. Somos no fundo, um país que não valoriza a criança e pior do que isso, não procura a mudança.
E fica a pergunta: como foi possível deixar uma educadora sem habilitações ou preparação específica lidar com uma criança hiperactiva e psicótica? Não há superiores que possam ser responsabilizados?
Qual é o bom pai de família que, por uma ou duas vezes, não dá palmadas no rabo dum filho que se recusa ir para a escola, que não dá uma bofetada a um filho que lhe atira com uma faca ou que não manda um filho de castigo para o quarto quando ele não quer comer?Um bom pai ou uma boa mãe percebe que o castigo físico não é eficaz, especialmente no que diz respeito a crianças mais velhas ou crianças com algum tipo de deficiência. Não nego que por vezes (mesmo muito ocasionalmente) uma palmada no rabo ou nas mãos, ajuda os educadores a marcar posição, especialmente se as crianças são pequenas e um sermão de dez minutos não resulta. Também não condeno a educadora por ter respondido com um estalo quando a criança lhe atirou a faca. Mas há alternativas ao castigo fisico e é essa a mensagem que a sociedade portuguesa tem de entender. Uma das várias obrigações do educador é a de sancionar os maus comportamentos, mas é possível fazê-lo sem violência. A criança porta-se mal, fica sem privilégios. Não quer comer a sopa ou a salada, fica sem comer até á próxima refeição. Em relação às crianças deficientes as estratégias têm de ser obviamente adaptadas.
Quanto às duas primeiras, pode-se mesmo dizer que a abstenção do educador constituiria, ela sim, um negligenciar educativo. Muitos menores recusam alguma vez a escola e esta tem - pela sua primacial importância - que ser imposta com alguma veemência. Claro que, se se tratar de fobia escolar reiterada, será aconselhável indagar os motivos e até o aconselhamento por profissionais. Mas, perante uma ou duas recusas, umas palmadas (sempre moderadas) no rabo fazem parte da educação.
Do mesmo modo, o arremessar duma faca para mais a quem o educa, justifica, numa educação sã, o realçar perante o menor do mal que foi feito e das suas possíveis consequências. Uma bofetada a quente não se pode considerar excessiva.
Quanto à imposição de ida para o quarto por o EE não querer comer a salada, pode-se considerar alguma discutibilidade. As crianças geralmente não gostam de salada e não havia aqui que marcar perante elas a diferença. Ainda assim, entendemos que a reacção da arguida também não foi duma severidade inaceitável. No fundo, tratou-se dum vulgar caso de relacionamento entre criança e educador, duma situação que acontece, com vulgaridade, na melhor das famílias.
Considero as estaladas uma violência. Fechar uma criança (normal ou deficiente) num quarto escuro é também uma agressão humilhante, desnecessária e contraproducente.
Este acordão revela alguns aspectos preocupantes da nossa sociedade. Somos no fundo, um país que não valoriza a criança e pior do que isso, não procura a mudança.
E fica a pergunta: como foi possível deixar uma educadora sem habilitações ou preparação específica lidar com uma criança hiperactiva e psicótica? Não há superiores que possam ser responsabilizados?
Escrito por Elise às 9:26 da manhã
6 Comments:
o castigo físico acaba por ensinar que a violência faz parte da vida. muitos dos agressores foram tambem eles vítimas de agressão enquanto crianças (devemos entender mas não desculpar, como éóbvio).
o que achas que tem mais efeito? uma semana sem o brinquedo favorito ou uma palmada no rabo?
a mensagem do castigo não físico é mais forte. se não obedeces às regras não usufruis dos orivilégios. se não sabes viver em sociedade não usufruis dos direitos.
seria uma dicussão interessante.
abraço.
ps- tenho um horror a estalos.
o que achas que tem mais efeito? uma semana sem o brinquedo favorito ou uma palmada no rabo?
a mensagem do castigo não físico é mais forte. se não obedeces às regras não usufruis dos orivilégios. se não sabes viver em sociedade não usufruis dos direitos.
seria uma dicussão interessante.
abraço.
ps- tenho um horror a estalos.
Elise, gostei do post, porque o entendi mais como um convite à reflexão do que como um receituário milagroso para educar crianças.
Não é fácil, e não é linear. A violência não é forma de educar, mas a passividade, o desleixo e o desinteresse são também uma forma de violência, ainda que não física.
Não é fácil, e não é linear. A violência não é forma de educar, mas a passividade, o desleixo e o desinteresse são também uma forma de violência, ainda que não física.
aves raras, a questão é que actualmente é possível educar uma criança com o mínimo de violência. as dicas que indiquei não fazem milagres instantâneos, mas a longo prazo surtem um maior efeito. exigem sobretudo muita coerência por parte dos educadores.
adiciono que um educador que deixa passar em branco comportamentos reprováveis mas assegura os cuidados básicos à criança é mais permissivo do que negligente. e educadores permissivos criam futuros adultos incompetentes e imaturos.
educadores autoritários (que abusam do castigo fisico) criam adultos agressivos.
este é um tema que gostaria de aprofundar.
abraço!
adiciono que um educador que deixa passar em branco comportamentos reprováveis mas assegura os cuidados básicos à criança é mais permissivo do que negligente. e educadores permissivos criam futuros adultos incompetentes e imaturos.
educadores autoritários (que abusam do castigo fisico) criam adultos agressivos.
este é um tema que gostaria de aprofundar.
abraço!
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Abusar do castigo fisico é violência. De acordo. A minha questão é se duas palmadas no rabo são sempre violência; se são sempre um abuso do castigo físico. Eu acho que depende da circunstância, em parte, mas também depende muito da "intenção" e da intensidade.
Eu acho que os "cuidados básicos" vão para além de dar comida à criança (e se não quiser, não come) ou levá-la ao médico quando está doente. A educação é um "cuidado básico", e é por isso que ser pai/mãe/professor é mais difícil que ser avô/avó/tio/tia/etc.
Pelo menos, penso eu de que... :-)
Eu acho que os "cuidados básicos" vão para além de dar comida à criança (e se não quiser, não come) ou levá-la ao médico quando está doente. A educação é um "cuidado básico", e é por isso que ser pai/mãe/professor é mais difícil que ser avô/avó/tio/tia/etc.
Pelo menos, penso eu de que... :-)
eu ajudei a educar dois sobrinhos, e também dei palmadas. mas depois de ter adquirido experiência académica e profissional, as estratégias mudaram.
os meus sobrinhos já sabem o que esperar de mim quando se portam bem ou quando se portam mal.
nesta casa podem jogar playstation, ver tv, brincar com as gatas, etc. se se portam mal, ficam sentados a olhar para o tecto.
é raro portarem-se mal quando estou perto. porque tento ser coerente e consistente nos meus castigos,
mas foi algo que construi ao longo dos anos.
a palmada no rabo não é tão produtiva a longo prazo,
***
duas palmadas com que frequência? e em que situações? porque não come a sopa? porque fez birra?
há pais que batem diariamente nos filhos.isso para mim é violência. depois os miúdos vão para a escola e muitas vezes batem nos colegas.
é um ciclo.
e se há alternativas, especialmente para crianças mais velhas entao porque insistir na palmada?
***
um pai negligente não se preocupa minimamente com o filho. um pai permissivo preocupa-se mas comete erros.
se há algo que aprendi é que a maior parte dos pais quer o melhor dos filhos, por isso um pai permissivo, ou até autoritário pode mudar estrtégias parentais se lhe for explicado porque deve agir daquela maneira quando o filho não come a sopa.infelizmente há profissionais que tratam os pais como inimigos desnecessariamente.
no fundo todos queremos o bem das crianças. e se for possível erradicar o castigo físico, tanto melhor.
abraço! mais um!
os meus sobrinhos já sabem o que esperar de mim quando se portam bem ou quando se portam mal.
nesta casa podem jogar playstation, ver tv, brincar com as gatas, etc. se se portam mal, ficam sentados a olhar para o tecto.
é raro portarem-se mal quando estou perto. porque tento ser coerente e consistente nos meus castigos,
mas foi algo que construi ao longo dos anos.
a palmada no rabo não é tão produtiva a longo prazo,
***
duas palmadas com que frequência? e em que situações? porque não come a sopa? porque fez birra?
há pais que batem diariamente nos filhos.isso para mim é violência. depois os miúdos vão para a escola e muitas vezes batem nos colegas.
é um ciclo.
e se há alternativas, especialmente para crianças mais velhas entao porque insistir na palmada?
***
um pai negligente não se preocupa minimamente com o filho. um pai permissivo preocupa-se mas comete erros.
se há algo que aprendi é que a maior parte dos pais quer o melhor dos filhos, por isso um pai permissivo, ou até autoritário pode mudar estrtégias parentais se lhe for explicado porque deve agir daquela maneira quando o filho não come a sopa.infelizmente há profissionais que tratam os pais como inimigos desnecessariamente.
no fundo todos queremos o bem das crianças. e se for possível erradicar o castigo físico, tanto melhor.
abraço! mais um!