domingo, novembro 19, 2006
Cerco do Porto 1832/33 (Parte III)
Parte I
Parte II
III - Traçado da linha de defesa perante o terreno e o armamento utilizado
Por altura do cerco a que foi submetida a zona urbana do Porto era muito mais reduzida em relação à de hoje . À época a cidade estava estendida , por um terreno inclinado que subia do rio Douro , para Nascente apenas até à zona do Prado do Repouso e para Norte apenas até à actual R. de Fernandes Tomás , subindo depois um pouco até à Lapa , R. de Alvares Cabral fechando para o Sul pela hoje R. Anibal Cunha , R do Rosário , Carmo e terminando no rio na zona de Miragaia . Para Poente , a paisagem era dominada pelas alturas dos terrenos do Palácio ( aonde se plantava a Torre da Marca ) , a cidade ainda aí não tinha chegado .
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A Norte e já fora da zona urbana da cidade a subida do terreno terminava numa linha de alturas segundo uma linha Este-Oeste definida pela actual R. da Constituição . De igual modo a Nascente uma linha de alturas Norte-Sul aproximada da actual Av. Fernão de Magalhães dominava poderosamente as baixadas de S. Roque e Campanhã e o vale do rio Tinto . Foi pois por estas linhas de alturas estratégicas que se decidiu proceder ao levantamento do perímetro de defesa , a qual com o correr dos meses se ia melhorando e reforçando .
Quanto ao armamento utilizado à época pelos dois contendores como instrumentos de combate , era constituído fundamentalmente por :
Espingardas de fechos de sílex , com sabre baioneta com um alcance eficaz de 250 m e capaz de disparar 3 tiros por minuto .
Peças de artilharia , com alcance eficaz entre 400 a 800 m , de calibre entre 12 e 30 , disparando projécteis esféricos maciços de ferro fundido ou pedra . Também podiam disparar «lanternetas » , caixas contendo metralha ou balas , de grande eficácia contra a infantaria a descoberto .
Obuses , com calibres entre 3 a 4 , disparando projécteis ocos , com uma carga explosiva no seu interior . Com uma trajectória muito verticalizada era particularmente utilizada para atingir soldados protegidos por parapeitos ou trincheiras .
As linhas de posição da artilharia liberal dividia-se inicialmente por duas linhas distintas :
A primeira linha estendia-se ao longo da margem norte do rio Douro ( margem direita ) , era prioritariamente vocacionada para o duelo directo com a artilharia realista instalada em Gaia . Este sector era constituído pela bateria do Bicalho ( junto à base norte da ponte da Arrábida ) , prosseguindo para nascente , com as baterias da Torre da Marca ( terrenos hoje do Palácio de Cristal ) , Bandeirinha (ao Largo de Viriato ) , Virtudes ( na Calçada das Virtudes ) , Vitória ( na encosta da freguesia e que desce para o Douro , Paço Episcopal ( ou Paço do Bispo ) , Fontaínhas ( na rua do mesmo nome ) ,Seminário (junto à base norte da ponte de D. Maria Pia) e Quinta da China ( junto à base norte da ponte de S. João ) .
A segunda linha estendia-se de nascente para poente e contava com as baterias das Oliveiras (na encosta da estação de Campanhã ) , do Forte de Campanhã , da Lomba ( junto à R. da Lomba ) , do Bonfim ( junto à igreja do mesmo nome ) , do Bom Retiro ( junto à rua Barros de Lima ) , de Goelas de Pau ( junto à rua Câmara Pestana ) , do Cativo , da Póvoa de Cima ( na encosta da rua da Bataria ) , Congregados ( Zona do Monte Belo e junto à rua Monte dos Congregados ) , Aguardente ( zona da Praça Marquês de Pombal ) , D. Pedro e da D. Maria II ( à zona do cruzamento rua da Constituição e Antero de Quental ) , Monte Pedral ( monte à rua Serpa Pinto ) , Ramada Alta ( à zona do mesmo nome ) , Bom Sucesso ( à praça do mesmo nome ) . A bateria de Lordelo ( à rua D. Pedro V ) fechava o anel de baterias junto ao início da linha anterior iniciada na bateria do Bicalho .
A partir de JAN 1833 , após chegada do futuro marechal Saldanha ao Porto , foi levantada uma terceira linha de baterias e fortificações com a finalidade de proteger a entrada dos navios pela barra do Douro, os quais transportavam as munições , tropas de reforço e alimentos à cidade sitiada , estendendo até ao mar a linha de defesa .
Para tal foram levantadas baterias nos redutos do Pasteleiro e do Pinhal , no Forte da Luz na zona da Foz para neutralizar os fogos miguelistas provenientes do seu forte do Castro . Foram erguidas ainda uma bateria junto ao castelo da Foz , frente à bateria miguelista que tinha sido erguida no areal do Cabedelo e ainda as baterias , ao longo da margem direita do rio nessa zona da Foz ,denominadas do Oiro , Arrábida e de Cónego Teixeira , todas elas vocacionadas para neutralizar as baterias adversárias do outro lado do rio que bombardeavam os navios entrados pela barra do Douro .
No exterior do perímetro de defesa como guardas avançadas , foram levantados redutos e fortins em pontos altos e estratégicos, sendo de relevar os Redutos das Antas ( no qual se integrava o reduto da Bela Vista ) , o Reduto do Cobelo ( que integrava o Reduto das Medalhas ) e ainda a Flecha dos Mortos , lugares estes que foram testemunhas de elevados feitos de coragem e valentia dos nossos avoengos de ambos os lados . Para a construção dos redutos e entrincheiramentos foram mobilizados tropas e populares . Utilizavam-se pedras , troncos de árvores , entulho , pipas e barricas cheias de terra ( barricadas ) . Cavavam-se fossos para defesa próxima e à medida que as fortificações iam sendo concluídas , as posições eram ocupadas por forças regulares . Em casos de acções ofensivas , os voluntários e as milícias eram chamadas a substituir as tropas de linha empenhadas em surtidas .
Em algumas posições mais estratégicas , situadas em lugares elevados , instalavam-se as baterias de artilharia , na sua maioria perto e adentro da linha fortificada de defesa .
Mário Ribeiro
(continua)
Linhas defesa sector ocidental do Porto
(clique no mapa para aumentar)
Parte II
Por altura do cerco a que foi submetida a zona urbana do Porto era muito mais reduzida em relação à de hoje . À época a cidade estava estendida , por um terreno inclinado que subia do rio Douro , para Nascente apenas até à zona do Prado do Repouso e para Norte apenas até à actual R. de Fernandes Tomás , subindo depois um pouco até à Lapa , R. de Alvares Cabral fechando para o Sul pela hoje R. Anibal Cunha , R do Rosário , Carmo e terminando no rio na zona de Miragaia . Para Poente , a paisagem era dominada pelas alturas dos terrenos do Palácio ( aonde se plantava a Torre da Marca ) , a cidade ainda aí não tinha chegado .
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A Norte e já fora da zona urbana da cidade a subida do terreno terminava numa linha de alturas segundo uma linha Este-Oeste definida pela actual R. da Constituição . De igual modo a Nascente uma linha de alturas Norte-Sul aproximada da actual Av. Fernão de Magalhães dominava poderosamente as baixadas de S. Roque e Campanhã e o vale do rio Tinto . Foi pois por estas linhas de alturas estratégicas que se decidiu proceder ao levantamento do perímetro de defesa , a qual com o correr dos meses se ia melhorando e reforçando .
Quanto ao armamento utilizado à época pelos dois contendores como instrumentos de combate , era constituído fundamentalmente por :
Espingardas de fechos de sílex , com sabre baioneta com um alcance eficaz de 250 m e capaz de disparar 3 tiros por minuto .
Peças de artilharia , com alcance eficaz entre 400 a 800 m , de calibre entre 12 e 30 , disparando projécteis esféricos maciços de ferro fundido ou pedra . Também podiam disparar «lanternetas » , caixas contendo metralha ou balas , de grande eficácia contra a infantaria a descoberto .
Obuses , com calibres entre 3 a 4 , disparando projécteis ocos , com uma carga explosiva no seu interior . Com uma trajectória muito verticalizada era particularmente utilizada para atingir soldados protegidos por parapeitos ou trincheiras .
As linhas de posição da artilharia liberal dividia-se inicialmente por duas linhas distintas :
A primeira linha estendia-se ao longo da margem norte do rio Douro ( margem direita ) , era prioritariamente vocacionada para o duelo directo com a artilharia realista instalada em Gaia . Este sector era constituído pela bateria do Bicalho ( junto à base norte da ponte da Arrábida ) , prosseguindo para nascente , com as baterias da Torre da Marca ( terrenos hoje do Palácio de Cristal ) , Bandeirinha (ao Largo de Viriato ) , Virtudes ( na Calçada das Virtudes ) , Vitória ( na encosta da freguesia e que desce para o Douro , Paço Episcopal ( ou Paço do Bispo ) , Fontaínhas ( na rua do mesmo nome ) ,Seminário (junto à base norte da ponte de D. Maria Pia) e Quinta da China ( junto à base norte da ponte de S. João ) .
A segunda linha estendia-se de nascente para poente e contava com as baterias das Oliveiras (na encosta da estação de Campanhã ) , do Forte de Campanhã , da Lomba ( junto à R. da Lomba ) , do Bonfim ( junto à igreja do mesmo nome ) , do Bom Retiro ( junto à rua Barros de Lima ) , de Goelas de Pau ( junto à rua Câmara Pestana ) , do Cativo , da Póvoa de Cima ( na encosta da rua da Bataria ) , Congregados ( Zona do Monte Belo e junto à rua Monte dos Congregados ) , Aguardente ( zona da Praça Marquês de Pombal ) , D. Pedro e da D. Maria II ( à zona do cruzamento rua da Constituição e Antero de Quental ) , Monte Pedral ( monte à rua Serpa Pinto ) , Ramada Alta ( à zona do mesmo nome ) , Bom Sucesso ( à praça do mesmo nome ) . A bateria de Lordelo ( à rua D. Pedro V ) fechava o anel de baterias junto ao início da linha anterior iniciada na bateria do Bicalho .
A partir de JAN 1833 , após chegada do futuro marechal Saldanha ao Porto , foi levantada uma terceira linha de baterias e fortificações com a finalidade de proteger a entrada dos navios pela barra do Douro, os quais transportavam as munições , tropas de reforço e alimentos à cidade sitiada , estendendo até ao mar a linha de defesa .
Para tal foram levantadas baterias nos redutos do Pasteleiro e do Pinhal , no Forte da Luz na zona da Foz para neutralizar os fogos miguelistas provenientes do seu forte do Castro . Foram erguidas ainda uma bateria junto ao castelo da Foz , frente à bateria miguelista que tinha sido erguida no areal do Cabedelo e ainda as baterias , ao longo da margem direita do rio nessa zona da Foz ,denominadas do Oiro , Arrábida e de Cónego Teixeira , todas elas vocacionadas para neutralizar as baterias adversárias do outro lado do rio que bombardeavam os navios entrados pela barra do Douro .
No exterior do perímetro de defesa como guardas avançadas , foram levantados redutos e fortins em pontos altos e estratégicos, sendo de relevar os Redutos das Antas ( no qual se integrava o reduto da Bela Vista ) , o Reduto do Cobelo ( que integrava o Reduto das Medalhas ) e ainda a Flecha dos Mortos , lugares estes que foram testemunhas de elevados feitos de coragem e valentia dos nossos avoengos de ambos os lados . Para a construção dos redutos e entrincheiramentos foram mobilizados tropas e populares . Utilizavam-se pedras , troncos de árvores , entulho , pipas e barricas cheias de terra ( barricadas ) . Cavavam-se fossos para defesa próxima e à medida que as fortificações iam sendo concluídas , as posições eram ocupadas por forças regulares . Em casos de acções ofensivas , os voluntários e as milícias eram chamadas a substituir as tropas de linha empenhadas em surtidas .
Em algumas posições mais estratégicas , situadas em lugares elevados , instalavam-se as baterias de artilharia , na sua maioria perto e adentro da linha fortificada de defesa .
Mário Ribeiro
(continua)
Linhas defesa sector ocidental do Porto
(clique no mapa para aumentar)
Escrito por Elise às 9:57 da tarde
2 Comments:
Uma excelente descrição, bastante minuciosa, dos acontecimentos bélicos, relativos ao cerco do Porto!
Parabéns ao MAR :)
e
Beijinhos à Elise :))
Parabéns ao MAR :)
e
Beijinhos à Elise :))
Achei particularmente interessante a parte da descrição das armas usadas na época.
Calculo que esta narração histórica deve revestir-se de curiosidade particular para os habitantes do Porto, que devem conhecer bem os lugares mencionados.
Oa meus Parabéns pela iniciativa!!!
Calculo que esta narração histórica deve revestir-se de curiosidade particular para os habitantes do Porto, que devem conhecer bem os lugares mencionados.
Oa meus Parabéns pela iniciativa!!!
It's a perfect day... Elise!
He got burned by the sun
His face so pale and his hands so worn
Let himself in room 509
Said a prayer, and cried, 'it's a perfect day elise'
Blog de Elizabete Dias
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