sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Cerco do Porto 1832/33 (Parte IV)

Click to enlarge

Vitória na Serra do Pilar

Foto obtida do livro Cerco do Porto do coronel David Martelo, editado pela editora Prefácio

Por Mário Ribeiro


Parte I
Parte II
Parte III

(clique nas imagens para aumentar de tamanho)

IV - Combates principais travados entre as forças liberais e miguelistas nas Linhas do Porto
O posto mais avançado de combate do dispositivo liberal a sul do Douro encontrava-se instalado no Alto da Bandeira ( zona do Chafariz dos Arrependidos a 0,5 Km da rotunda de S. Ovídio ) guarnecido pelo Batalhão de Infantaria 6 . A notícia da aproximação de poderosas forças miguelistas vindas do Sul do País fez ocorrer ao local com reforços civis armados o Governador Militar do Porto , ten. coronel Bernardo de Sá Nogueira, futuro Marquês de Sá ( do Alto ) da Bandeira , uma das figuras que se tornariam maiores nesta guerra e que é hoje , simbolicamente, o patrono da nossa actual Academia Militar.



Click to enlarge


Carta do Porto e suas vizinhanças completo em 1832

Perante a disparidade das forças em presença e temendo ser envolvido pelas forças inimigas , Infantaria 6 rompe o contacto e retira debaixo de fogo . Neste movimento são feridos gravemente o major que comandava o Batalhão e o próprio Sá da Bandeira que perde o braço direito na luta . Apesar de gravemente ferido continua a comandar a retirada para a Serra do Pilar de forma eficiente e disciplinada . Este estratégico ponto forte será o único a resistir heroicamente durante dois dias de avassaladores ataques miguelistas os quais , alvos dos fogos de artilharia do lado do Porto ( Vitória e Virtudes ) , dos navios liberais fundeados no Douro e ainda dos fogos da bateria do Hospital , inviabilizaram o assalto final . Os combates pela posse da Serra do Pilar foram extremamente violentos e duraram até 11 de SET sem conseguirem desalojar as forças liberais desse morro estratégico , se bem que a partir desta data , Gaia e toda a margem esquerda do rio Douro ficasse na posse das forças realistas , aonde seriam instaladas poderosas baterias de artilharia que iriam massacrar toda a cidade do Porto durante o período de quase um ano , tempo de duração do cerco .
Numa zona próxima do perímetro defensivo , frente a Paranhos , o Monte Covelo e um outeiro próximo ( hoje localizado entre as ruas de S. Dinis e do Vale Formoso , frente ao Monte Pedral ) começaram a ser fortificados pelas tropas realistas , uma ameaça perigosa para as linhas liberais . Foi decidida então uma acção ofensiva destinada a destruir as obras já realizadas . Uma força de 1 400 soldados liberais ( Batalhão de Caçadores 5 protegido pelo Batalhão de Infantaria 3 e 10 ) ataca e toma de surpresa a 16 SET as posições em fim de construção e procede à sua imediata demolição . As forças miguelistas reagem e fazem avançar a sua cavalaria , anulando com este seu contra-ataque a tomada da posição já na posse dos liberais e reocupando a posição com 400 homens da sua infantaria .

A situação tornada perigosa para as forças liberais , obriga a planear uma nova investida para retomar o pequeno outeiro , aonde são empenhadas duas companhias de Infantaria 18 , duas de Inf. 3 e duas de Caçadores 2 e cerca de 30 voluntários civis que com assinalada bravura , depois de acesos combates em que a luta corpo-a-corpo foi frequentemente utilizada , levam de vencida as forças realistas que deixam no terreno 30 a 40 mortos ( 2 oficiais ) , idêntico número de feridos , 6 prisioneiros e diverso tipo de munições que abandonaram .

Pelo lado das forças constitucionalistas as baixas também foram pesadas , sobretudo de oficiais em proporção aos soldados mostrando pelo sacrifício da própria vida um elevado exemplo de coragem e desempenho das suas elevadas responsabilidades nas suas posições de comando .

Como resultado desta operação o pequeno outeiro passou , após reposta a sua fortificação , a ser ocupado e guarnecido permanentemente . As medalhas distribuídas por D. Pedro a muitos daqueles que heroicamente se bateram , levou que a posição fortificada desse outeiro se passa-se a denominar por : Reduto das Medalhas .

O Monte Covelo , no entanto , após a destruição das obras de fortificação aí levantadas pelos realistas , não foi guarnecido permanentemente , tendo sido reocupado sem problemas de novo pelas forças realistas . A situação só foi alterada , em favor das forças constitucionalistas , em Abril de 1833 .

Enquanto decorria estas acções de combate frente à zona de Paranhos , em simultâneo , no sector nordeste das linhas e próximo das Antas , as forças sitiantes sob o comando do visconde de Peso da Régua desencadeiam uma forte ofensiva sob as forças liberais compostas nesse local por uma companhia do 3º Batalhão de Infantaria 18 e um piquete de 60 homens , todos sob o comando do coronel Hodjes . O ataque realista foi executado com tal ímpeto , que as forças liberais começaram a ceder . Perante o risco de ruptura da defesa , acorreu ao local uma força composta de uma companhia de Batalhão de Caçadores 12 e pelos granadeiros do Batalhão da Marinha , comandados pelo major Staunton . Este reforço , carrega impetuosamente sobre os militares miguelistas , travando-lhes a progressão e de seguida obrigando-os a retirar , deixando no terreno cerca de 50 baixas entre mortos e feridos . Entre as perdas liberais contava-se a morte do comandante , major Staunton .

Honra aos heróis !
A aproximação do dia de S. Miguel decidiu o comandante realista , visconde do Peso da Régua , a tentar um feito digno de celebrar o dia do santo cujo nome era igual ao do seu soberano . Assim mobilizou para esta acção elevados meios materiais e humanos destinados a alcançar uma vitória decisiva , garantindo desta maneira e de um modo definitivo a disputa do trono real . Aguardava também alcançar com a escolha de tal dia , a protecção divina para obter o desejado sucesso na batalha que iria travar-se .

Assim às 06H30 de 29 SET a 1ª Coluna realista , sob o comando do Brig. Magalhães Lemos , vinda de Campanhã , ataca de surpresa e rompe as linhas liberais , entra pelas ruas da cidade chegando até à zona do Prado do Repouso . Batidas pelo fogo da artilharia e da infantaria miguelistas , as tropas liberais estacionadas no sector de Campanhã iniciam a retirada . Para felicidade da causa constitucional , acontece um choque trágico entre tropas realistas devido a um equívoco fortuito . O 2ª Batalhão do Novo Regimento de Infantaria de Lisboa , perante o sucesso do desenrolar das operações, recebe ordem para sair de Gaia e dirigir-se para a zona de combate , atravessando o rio Douro . Acontece que este batalhão tinha recebido fardamento novo com barretinas «à francesa» , desconhecido ainda pelas tropas realistas em combate . Ao vislumbrar os reflexos do brilho do sol nas chapas metálicas que encimavam as barretinas dos soldados que à distância se aproximavam , as tropas miguelistas das Milícias da Figueira da Foz empenhadas na luta , supondo tratar-se de uma força francesa ao serviço de D. Pedro , decide abrir caminho a tiro causando logo no embate 39 baixas entre mortos e feridos no Reg. de Infantaria de Lisboa que os vinha apoiar . Este terrível equívoco foi de imediato aproveitado pelas forças liberais para reconstituir as sua defesas perante a desorientação que lavrava no campo adversário . Assim na zona do Prado de Repouso aonde 300 a 400 miguelistas já se tinham infiltrado , foram o alvo de contra-ataques das reservas liberais que empenharam na luta directa todo o pequeno corpo de guias , estacionado no largo do Bonfim , tendo originado combates particularmente violentos , com actos do maior heroísmo de ambos os lados . A rua do Prado aonde estas lutas directas foram travadas , mudou o seu nome para R. 29 de Setembro e mais tarde , em homenagem aos bravos que aí se bateram e aí caíram, para R. do Heroísmo que ainda hoje se mantém .

Enquanto o ataque mais importante decorria no extremo oriental da linha liberal , outros dois ataques foram desencadeados para fixar as forças liberais impedindo-as de ocorrer à zona de Campanhã . Um por uma coluna realista proveniente da altura das Antas que atacou a linha liberal na zona do Cativo , Bonfim e Fojo e uma outra coluna , proveniente de Norte , que atacou o dispositivo de defesa liberal frente ao Monte Pedral . Tal como sucedera na zona de Campanhã as forças liberais cederam à investida realistas , mas antes que estas consolidassem posições , contra-ataques vigorosos de reforços liberais obrigaram os realistas a abandonar as posições recém-conquistadas .

Pelas 15H30 a maior parte das posições liberais estavam reocupadas pelos sitiados . A ultima acção do dia destinou-se a desalojar a força realista que se havia fixado na baixa frente ao Cativo . Pelas 16H00 uma coluna liberal sob comando do Ten-Cor. Pacheco retoma o sector do Cativo .

Pelas 17H00 as forças absolutistas desmoralizadas tinham recolhido às suas linhas com 4000 baixas das quais 117 oficiais .

A posição da Serra do Pilar , posição de grande valor estratégico face à cidade do Porto , estava sob comando do brigadeiro Torres e era alvo prioritário dos chefes realistas que tomaram a decisão de a atacar em força . Como preparação para o ataque frontal , desde as 06H00 da manhã do dia 13 um bombardeamento intenso de fogo de artilharia ir-se-à prolongar até às 14H00 do dia 14 preparando o terreno para o ataque das tropas de assalto miguelistas às trincheiras de defesa dos liberais . Neste intervalo de tempo foram disparadas mais de 3 000 projecteis de artilharia e morteiro (obuses).

Pelas 15H15 do dia 14 , entendendo os realistas que o animo dos defensores estaria quebrantado , uma força de 5 000 homens divididos por três colunas iniciam o ataque aos extremos e ao centro das posições liberais fortificadas da Serra do Pilar . Do lado do Porto , quando a infantaria atacante cai dentro do alcance das baterias liberais do Seminário , das Fontaínhas e da Vitória , estas despejam os seus projecteis sobre as colunas inimigas empenhadas no assalto . A coluna central sob comando do realista brigadeiro Magalhães Peixoto carrega por cinco vezes sem sucesso sobre o reduto da Serra , aonde as tropas do brigadeiro Torres se aguentam com bravura causando um elevado numero de baixas nos atacantes . Decide-se então conduzir um ultimo assalto que se considera decisivo . À testa da força atacante , o 1º Batalhão de Caçadores da Beira Baixa , depois de valorosa carga à baioneta consegue atingir as trincheiras dos defensores da Serra , embora à custa de terríveis perdas . Quando a vitória está prestes a ser alcançada , é ferido gravemente o brigadeiro Magalhães Peixoto desorientando o campo miguelista que, ao ver-se privado do seu comando não tarda a fazer soar o toque de retirada .

Já durante a noite , ainda do mesmo dia 14 , o exército de D. Miguel leva a cabo com idêntico insucesso , um derradeiro ataque ao inexpugnável reduto liberal deixando os defensores da Serra cobertos de glória e o terreno circunvizinho juncado de armas , feridos e cadáveres em número superior a 600 incluindo o brigadeiro Peixoto que veio a falecer em Gaia dos graves ferimentos sofridos . Entre os defensores também , percentualmente , as perdas foram pesadas : 69 homens entre os quais 5 oficiais .

Click to enlarge

Mulheres na luta da Serra do Pilar


Foto obtida do livro Cerco do Porto do coronel David Martelo, editado pela editora Prefácio


Desde esta data a Serra do Pilar ficou tão segura nas mãos dos constitucionais como já ficara a cidade do Porto após a batalha de 29 de Setembro . D. Pedro I que com todo o seu Estado- Maior , tinha assistido em ponto sobranceiro da cidade a todo o desenrolar da batalha , após a vitória atribuiu ao brigadeiro Silva Torres a promoção a general e o titulo de Oficial da Ordem da Torre e Espada .
As pesadas derrotas de 29 SET e de 14 OUT levaram os realistas a desistir dos assaltos directos às posições liberais . A partir de então procuram apertar as linhas de cerco criando e fortificando uma linha sua de defesa paralela à linha liberal . isolando a cidade e procurando a sua rendição pela fome , ao mesmo tempo que a sujeitavam a intensas acções de flagelação com artilharia pesada , com projecteis de grande calibre dos quais se irá destacar os lançados pelo canhão-obus PAIXHANS .

Esta postura imobilista e passiva por parte dos realistas vai levar D. Pedro a uma mudança de estratégia contemplando agora acções de desgaste sobre as linhas dos sitiantes miguelistas .

Assim D. Pedro começa a pensar que a melhor solução para o comando das suas tropas sitiadas seria entregá-lo ao general João Carlos de Saldanha ( futuro Marechal Duque de Saldanha ) . Assim para preparar o regresso de Saldanha decide , em Outubro , exonerar o conde de Vila Flor do comando das tropas do Porto ( compensando-o no entanto com a atribuição do titulo de Duque da Terceira ) e entretanto toma ele próprio a condução das operações militares .

Face a uma série de desaires operacionais aquando do seu comando directo , decide D. Pedro mandar contratar um general francês , Jean Solignac , antigo general das campanhas napoleónicas , que assume de imediato o comando após chegar ao Porto a 1 JAN 1833 . O seu carácter intempestivo acaba por levar à sua demissão e sua substituição pelo gen. Saldanha a 13 de Junho . Neste mesmo dia é também demitido o almirante Sartorius , comandante da esquadra naval liberal desde a estadia dos liberais na ilha Terceira nos Açores e que será substituído pelo almirante Charles Napier . Este homem do mar irá ter um papel fundamental no triunfo e na vitória das forças constitucionais de bandeira bicolor , azul e branca , com escudo central rubro e ouro .

A 28 de Janeiro de 1833 chegara do exílio João de Saldanha que se junta às tropas no Porto sendo-lhe atribuído o comando do sector poente da cidade ( zona da Foz ) . Torna-se o principal conselheiro militar de D. Pedro recebendo no mesmo mês o titulo de Conde de Saldanha . É nomeado Chefe do Estado Maior a 13 de Junho substituindo Solignac. ( Será Marquês em Maio de 34 , Duque em Maio de 55 e morrerá em 1876 como Marechal - Duque , embaixador de Portugal em Londres ) .

Como as condições da população da cidade se ia agravando pela fome reinante , agravada pela epidemia da cólera que atingiu a cidade em FEV de 1833 , tornava-se essencial proteger a entrada de abastecimentos pela barra do Douro o que levou Saldanha a construir um prolongamento da linha de defesa liberal para a zona da Foz . o que fez reforçando as fortificações na área do Pasteleiro e erguendo novas linhas de defesa de entrincheiramento , novos redutos , fortins e baterias .

Da parte realista também se irão proceder a substituições . Responsabilizado pelo insucesso do cerco do Porto o Visconde do Peso da Régua é demitido e substituído no comando das tropas realistas pelo general Santa Marta . D. Miguel sentindo que o desânimo se apoderava das suas tropas sai de sua corte em Lisboa e após uma breve passagem e estadia em Braga , fixa residência em Leça do Balio para se encontrar próximo das suas tropas que sitiavam o Porto .

Face ao movimento de construções defensivas na área do Pasteleiro e da Foz os chefes militares realistas começaram a contestar a atitude passiva de Santa Marta , levando D. Miguel a proceder a nova substituição no comando o qual será entregue ao conde de S. Lourenço , António Silva e Menezes , fervoroso partidário do retorno à ofensiva .
Por necessidades financeiras para comprar e pagar os apoios contraídos em Inglaterra , foi decidido por D. Pedro , agora no comando das operações , e pelo Estado-Maior liberal a realização de uma surtida fora do perímetro de defesa tentando apoderar-se da maior quantidade possível de Vinho do Porto existente à data nos armazéns de Gaia . Assim a 14 NOV um corpo de 1 600 homens , sob o comando do coronel Schwalbach atravessa o Douro frente à Quinta da China , contando com o apoio de 600 homens de Inf. 18 saídos da Serra do Pilar . O ataque de surpresa às posições realistas tem um sucesso inicial permitindo destruir algumas fortificações , porem à medida que os realistas se recompunham e lançavam no campo de luta efectivos superiores , a força liberal é repelida serra abaixo , retirando para a cidade e deixando no terreno 20 mortos ,44 feridos e 30 prisioneiros .
Apesar dos maus resultados da primeira surtida insiste D. Pedro , numa nova surtida de reconhecimento a 17 NOV sobre as estradas de Valongo e S. Cosme . Esta surtida era apoiada por um ataque de diversão às forças realistas na zona de Paranhos e das Antas .

A manobra principal foi de novo entregue ao coronel Schwalbach e tudo correu de modo semelhante ao anterior . Sucesso inicial sobre as posições adversárias , seguida de retirada com baixas significativas : 25 mortos , 144 feridos e 5 desaparecidos nos combates .

Estas surtidas à chamada « Terra de Ninguém » era seguida com grande curiosidade pela população que antecipando o espectáculo , se aglomerava em pontos altos o que alertava os vigias miguelistas para o ataque que se preparava .

Insistindo no erro , a 28 NOV , nova surtida é levada a efeito , desta vez sobre a zona do Padrão da Légua , sobre o sector defendido pela 2ª Divisão realista . D. Pedro organiza uma poderosa força de 5 000 homens , um esforço considerável face aos efectivos disponíveis .

Os piquetes avançados inimigos retiraram de imediato face às forças liberais . Entusiasmadas com este pequeno sucesso , avançam pela « terra de ninguém » entre as duas linhas de defesa até que começam a ser batidas pelo fogo das posições principais realistas não contando elas próprias com apoio de fogo de campanha . Começa a instalar-se o pânico entre atrevidos assaltantes muito afastados já das suas posições amigas e em risco de serem envolvidos pela cavalaria inimiga a qualquer momento e impedidos de regressar ao Porto . Nesta altura , tal como acontecia com as tropas absolutistas , faltaram às tropas liberais empenhadas no ataque chefes militares com conhecimentos tácticos para conduzirem acções militares de ataque como aquela em que estavam envolvidas .

De facto as forças atacantes liberais caiem sob a acção de dois esquadrões do Regimento de Cavalaria de Chaves , os quais lhes causam baixas elevadas , obrigando - as à retirada e a recolher às suas linhas , deixando no campo 272 mortos e feridos . Era o terceiro insucesso neste mês de Novembro .

Neste dia , no campo absolutista decorria uma visita-revista às posições das tropas realistas pelo próprio D. Miguel . Coincidência ou não , decidira o comando liberal uma nova surtida , no lado oposto aonde se realizava a revista militar, aos armazéns de Gaia do vinho do Porto , com a finalidade de resgatar o maior número de pipas para abastecimento dos sitiados e possível fonte de valor económico para venda ao estrangeiro .

Saindo da zona da Alfândega e atravessando o Douro em pequenos barcos , as tropas liberais surpreenderam os piquetes realistas e rapidamente chegaram aos armazéns aonde conseguiram ainda apoderar-se de 60 pipas de vinho , algum azeite e milho . Enquanto transportavam e carregavam foram confrontados com o 1º Batalhão de Caçadores da Beira Alta que ocorrera ao local e que com apoio de outras unidades realistas carregaram sobre a pequena testa de ponte liberal na margem de Gaia . A recolha desta pequena quantidade de abastecimentos acabou por custar às força liberais 15 mortos , 56 feridos e 3 desaparecidos .


EPIDEMIA DE CÓLERA no PORTO de JAN a AGT de 1833

Face à ineficiência das suas acções , em fins de 1832 tinha mandado D. Pedro procurar em França um general francês para ser nomeado chefe do exército liberal . Foi contratado o general barão Jean Solignac , antigo general das campanhas de Napoleão Bonaparte , que desembarca na Foz a 1 JAN 1833 trazendo consigo um contigente de 200 soldados belgas .

Para infortúnio dos habitantes da cidade , eram estes soldados portadores do vírus da cólera que rapidamente se espalhou pela população , causando um elevado número de mortes . Apesar de medidas enérgicas de sanidade apenas se conseguiu debelar a epidemia em Agosto .

As primeiras medidas de Solignac foi a suspensão das surtidas ao campo adversário que se tinham mostrado mais prejudiciais do que benéficas . Reorganizou o exército mandou arrasar fossos e trincheiras existentes nas ruas interiores da cidade por desnecessárias , facilitando a vida à sua população . Considerando que as posições realistas no Castelo do Queijo e no Monte do Crasto eram uma séria ameaça aos barcos que tentavam entrar à Barra do rio , decide uma acção ofensiva aqueles redutos com apoio da artilharia dos navios liberais sob comando do almirante George Sartorius .

Este reduto do Crasto localizado no sector ocidental era um bom objectivo estratégico , desde que o ataque utiliza-se o efeito surpresa e efectivos atacantes em número adequado , já que os realistas teriam de percorrer uma distância elevada para deslocar as suas reservas de tropas .

À hora do ataque porém a esquadra liberal de Sartorius que devia bombardear e em golpe de mão tomar o castelo do Queijo , se bem que à vista , pairava bastante a Sul da posição correcta para proporcionar apoio adequado à operação . Em terra o ataque liberal inicia-se com forte tiroteio de infantaria sobre os piquetes realistas da Fonte da Moura , Serralves e Passos . Outra coluna progride sobre o forte do Crastro , conseguindo desalojar as forças miguelistas desta estratégica posição que é tomada pelos liberais . Neste intervalo a coluna de ataque que deveria estar a atacar pelo flanco norte atrasa-se , permitindo que o comandante realista , marechal de campo Teles Jordão lança todas as suas forças nessa zona , 1º de Infantaria de Elvas e as unidades das 2ª e 3ª Brigadas de reserva estacionadas em Padrão da Légua , Senhora da Hora e Ramalde em reforço na batalha , atacando a ala direita liberal empenhada em combate na zona de Serralves .

Deste modo a pressão atacante liberal foi perdendo intensidade à medida que os realistas iam empenhando cada vez mais forças na defesa das suas posições , acabando por ser determinado o regresso das unidades liberais às suas linhas . Assim foi perdida a oportunidade de conservar o valioso e já tomado reduto do Forte no Monte do Crastro , depois do sacrifício entre mortos e feridos de 257 soldados liberais .

O general francês atribuiu o fracasso da ofensiva ao facto de ter sido o próprio D. Pedro o responsável pelo atraso da saída da coluna liberal pelo flanco norte e que se destinava a travar o movimento realista , o qual sem entraves acabou por ser executado anulando o sucesso da operação liberal . Este assumiu o erro , prometendo não voltar a intervir mas de facto este desaire fez cair o prestigio e empalidecer a estrela da fortuna de Solignac e originar-lhe criticas que iriam conduzir à sua posterior demissão a 13 de Junho .

O reforço das fortificações liberais na zona do Pasteleiro decididas pelo gen. Saldanha comandante deste sector , gerara grande controvérsia no campo miguelista que criticava duramente a atitude passiva do comandante - chefe visconde de Santa Marta , que substituíra em OUT de 1832 o visconde do Peso da Régua , cuja estratégia de derrotar as forças liberais a rendição destas pela fome e pelo bombardeamento sistemático da cidade , aprisionada por um anel fortemente fortificado , paralelo à linha de defesa liberal e dela separada por uma « terra de ninguém » que variava entre uma distância de 200 a 500 m no sector poente ( zona da Foz até Serralves ) até 2 500 m pela velha estrada de Braga, entre o forte liberal no monte Pedral e a linha miguelista em S. Mamede de Infesta .

Esta estratégia de bons resultados militares , comprovada pelas derrotas liberais em todas as surtidas realizadas e pelo falhanço da tomada de posse do Monte de Crasto , exigia no entanto tempo e muita paciência para colher resultados . A ânsia de glória e as obras liberais de reforço no Pasteleiro criaram as condições necessárias para que a intriga dos militares na corte de D. Miguel vencesse . Este , também impaciente , decide-se pela substituição em 24 de FEV , de Santa Marta pelo conde de S. Lourenço , António José de Silva e Menezes , fervoroso partidário do retorno à ofensiva .

Assim a 4 de Março , desencadeia um violento ataque aos redutos liberais do Pinhal e do Pasteleiro cujas novas posições admitia ainda não estarem guarnecidas de artilharia . Prevenidos de véspera da decisão do ataque , Saldanha na noite de 3 para 4 faz instalar no reduto do Pinhal um destacamento de Inf. 10 e algumas bocas de fogo carregadas com «lanternetas» . De igual modo guarnece o reduto do Pasteleiro com um destacamento de Inf. 3 e o forte da Luz com o 1º Batalhão Móvel . Em reserva encontrava-se Infantaria 9 na zona de Lordelo e o destacamento de « riflemen » do major Shaw .

Os realistas atacam pela manhã de 4 com a 2ª Div. da 1ª Brigada , cuja testa era constituída pelo 1º de Caçadores da Beira-Baixa . Confiantes nas suas informações quanto à ausência de artilharia avançam até à esplanada do reduto a conquistar . Uma salva de artilharia dos defensores com as «lanternetas» varre as fileiras , provocando pesadas baixas na primeira onda de assalto . O forte da Luz colabora na defesa das posições liberais disparando foguetes incendiários «Congrève» uma novidade nos campos de batalha . Depois de um primeiro recuo , os homens da 1ª e 4ª Brigada reorganizam-se e voltam a atacar os seus objectivos , os redutos do Pinhal e do Pasteleiro . Com redutos tão bem defendidos , quem ataca .... perde .

Tal como nos ataques liberais às forças atacantes nada mais resta que não seja retornar para as posições donde tinham partido .
Pela parte norte do Porto os realistas procuravam incessantemente estudar todas as elevações do terreno onde pudessem construir as suas baterias , para não deixar na cidade um só ponto que não pudesse ser alvo de bombardeamento . A bela posição do monte das Antas seria tão ameaçadora e terrível para a zona norte da cidade como pela parte sul estava a ser a bateria miguelista de Gaia .

Aquele monte estava ocupado por um simples piquete constitucional , mas D. Pedro ordena na noite de 23 de Março , o levantamento de uma trincheira para começo de fortificações de maior vulto . Apercebendo-se de tal os realistas e para evitar um mal maior , o conde de S. Lourenço decide-se pelo ataque imediato às obras dos liberais . Pelas 11H00 da manhã de domingo 24 inicia-se o ataque pela 4ª Brigada realista com o 1º Regimento de Inf. de Chaves ao monte das Antas . O piquete liberal de Caçadores 5 submergidos pela força atacante foge , sendo de imediato destruídos os entrincheiramentos já realizados . Não podiam no entanto desistir os liberais daquela estratégica posição . Assim pelas 15H00 D. Pedro decide-se a retomar o monte que lhe servira de posto avançado, agora ocupado por forças realistas em número de 6 000.

Este posto avançado localizava-se isoladamente 1 000 m à frente do ponto mais próximo da linha de defesa dos liberais , localizado aonde é hoje o cruzamento da R. da Constituição com a R. Santos Pousada . O monte das Antas , erguia os seus altos pontos ( 155 , 156 e 153 m) entre os hoje campos do clube Vigorosa e a zona norte do 1º estádio do F. C. do Porto ( à hoje R. das Cavadas ) .

NOTA : Posteriormente à definitiva posse do monte das Antas foi construído o reduto da Bela Vista , 500m a sul , que se localizava no chamado Monte Aventino ( altitude de 157 m ) que nos tempos de hoje já foi terminal das vagonetas aéreas que traziam o carvão das minas de S. Pedro da Cova para a cidade do Porto e posteriormente local de um quartel da G.N.R. . Hoje é jardim público .

Para este efeito faz sair pela estrada de Valongo uma coluna composta por destacamentos de Infantaria 9 e 10 e do Batalhão da Marinha que deveria atacar o sector esquerdo dos realistas estacionado no monte . Pela vertente ocidental do monte ( sector direito realista ) os liberais atacam com o Batalhão de Caçadores 5 de um modo fulgurante a crista das Antas apoiados pelo ataque simultâneo do lado oposto pela coluna proveniente da estrada de Valongo . Os realistas abandonam o monte recuando para o terreno plano aonde hoje se localiza o Bairro de Costa Cabral , esperando atrair os liberais para uma zona propícia à sua cavalaria já que tinham o seu Regimento de Cavalaria de Chaves pronto a actuar . Estes porém não caíram nessa armadilha , optando pela simples reocupação das elevações do monte das Antas . Face ao impasse os realistas decidem-se por um contra-ataque fazendo avançar o seu Regimento Provisório logo de seguida reforçado pelo seu 2º Batalhão de Caçadores , travando-se um combate memorável de baioneta calada e arma branca . O resultado irá pender momentaneamente em favor das forças realistas , que de novo se apossam do monte das Antas .

Pelas 19H00 o comandante-em-chefe Solignac determina ao Duque da Terceira a reconquista da posição . O novo contra - ataque liberal é levado a cabo pelas colunas comandadas pelo coronel Schwalbach e coronel Silva Pereira . O ataque é desencadeado com extraordinário ímpeto , com a coluna de Schwalbach atacando pela esquerda e a de Silva Pereira pela direita . Do Bonfim marcham reforços para se empenharem no combate das Antas . Após combates encarniçados que se prolongaram pela noite dentro , as tropas realistas pelas 23H00 recebem ordem de retirada deixando na posse dos liberais está estratégica posição que estes irão manter até ao fim do cerco .

NOTA : O comandante do Batalhão de Caçadores 5 , coronel Silva Pereira , pelos actos de bravura que cometeu na tomada deste monte será agraciado por D. Pedro com o titulo de barão das Antas e mais tarde , de conde do mesmo nome .
Após o grande combate das Antas , a intensidade das operações militares realistas decaem na razão inversa em que intensificam os seus bombardeamentos à cidade . A bateria realista mais destruidora localizava-se no Castelo de Gaia , numa elevação fronteira à zona da Alfândega no Porto . No campo liberal havia quem entendesse arriscar a conquista desta elevação mas D. Pedro , face à sua desastrada experiência anterior , nunca acedeu a desencadear tal operação .

Em contrapartida , para manter as suas tropas activas , decide tentar a conquista do monte Covelo ( hoje é a Quinta do Covelo ) frente a Paranhos , ocupado por destacamentos miguelistas de Infantaria 12 e 13 , Regimento de Milícias e do Batalhão de Voluntários . A operação é desencadeada a 9 de Abril , após rigoroso segredo , sob comando do Duque da Terceira e com a utilização de duas colunas : uma , constituída por destacamentos de Infantaria 9 e de Caçadores 12 deslocou-se pela estrada da Cruz das Regateiras ( hoje R. de Costa Cabral ) ; a outra com tropas de Infantaria 3 e 10 pela estrada do Sério ( hoje R. do Vale Formoso ) .

Avançando disfarçadamente a coberto de muros e caminhos desenfiados da vista do monte , as tropas de Infantaria 10 sob comando do coronel José Joaquim Pacheco atacam de surpresa as tropas miguelistas que ocupavam o monte Covelo , que nem dez minutos de resistência conseguem oferecer aos assaltantes liberais . Logo no dia seguinte , porém , os realistas tentam por duas vezes retomar a posição perdida em contra - ataque utilizando as forças afugentadas agora reforçadas com as forças de Infantaria 7 , 19 e 22 . Travam - se intensos combates nos quais as tropas liberais sob comando do coronel Pacheco se batem com rara bravura , sofrendo 197 baixas mas sem que as tropas realistas conseguissem desalojá-los das alturas do monte Covelo . Ulteriores tentativas realistas de assalto fraquejaram de igual modo , mantendo-se a posição transformada em forte reduto , em posse dos liberais até final do cerco .

NOTA : O acção heróica deste militar é destinguida ainda hoje pela cidade do Porto que na sua toponímia atribuiu o nome de Coronel Pacheco a uma praça , a uma rua e a uma travessa (na freguesia de Cedofeita) .

A conquista desta posição é a marca final de um período de grande actividade militar e o esgotamento da confiança , ajudada pela intriga sempre presente nos altos comandos liberais, de D. Pedro no general francês Solignac que se virá , mais tarde , substituído pelo general Saldanha no comando .

Em Maio de 1833 as deserções do campo miguelista para o liberal e o reforço por tropas mercenárias estrangeiras fizeram subir os efectivos liberais para 18 000 homens dos quais 300 a cavalo .

Em Junho de 1833 tinha-se atingido o impasse entre os dois campos em luta . Solignac , ainda no comando , achava que não tinha sido contratado para tal inactividade . Após cuidada análise da situação apresenta a D. Pedro duas propostas de alcance estratégico : a primeira , uma operação de grande envergadura tendo por finalidade a ruptura do cerco ; a outra , uma expedição naval com 5 000 homens destinada a atacar Lisboa , a capital do reino .

Estas propostas deram origem a vivas discussões entre ao conselheiros directos de D. Pedro , que achavam de elevado risco qualquer das propostas e em particular a segunda . O que veio a ser aprovado , no entanto , foi mesmo uma acção por via marítima , com uma força muito menor que deveria desembarcar no Algarve .

Perante esta decisão , Solignac pede a sua demissão que é de imediato aceite por D. Pedro , para grande satisfação de muitos dos seus conselheiros que há muito vinham criticando e intrigando o general francês . Entretanto também fora demitido o almirante Sartorius de comandante-chefe da esquadra naval liberal , sendo substituído no comando por um capitão-de-mar-e-guerra Charles Napier, contratado em Inglaterra . É promovido por D. Pedro a vice-almirante e toma o comando da esquadra liberal que irá transportar e desembarcar um corpo de 2 500 homens no Algarve , constituído por Regimentos de Infantaria 3 e 6 , Batalhões de Caçadores 2 e 3 , Batalhão do Regimento de Infantaria Ligeira da Rainha ( franceses ) e ainda um destacamento de artilharia de campanha .

O corpo expedicionário , sob o comando do Duque da Terceira , a 24 JUN desembarca em Alagoa e sem qualquer oposição , face à surpresa total causada no campo miguelista , ocupa Tavira apoderando-se do controle da costa algarvia . Estaciona em Loulé , meditando sobre as dificuldades de sair do Algarve com uma força tão pequena , até porque se bem recebidas as tropas pela população algarvia o entusiasmo para pegar em armas contra D. Manuel era manifestamente reduzido em face das ameaças latentes em caso de derrota das diminutas forças liberais . Um factor vai porém surgir que irá dar um rumo definitivo à guerra : a esquadra miguelista , fundeada no Tejo , faz-se ao mar logo que em Lisboa se toma conhecimento do desembarque dos liberais no Algarve .

A frota miguelista vai encontrar a força naval liberal frente ao cabo de S. Vicente , extremo ocidental da costa algarvia junto à Ponta de Sagres . Apesar da inferioridade da esquadra liberal , 6 navios com 176 peças de artilharia contra 10 barcos e 372 peças de artilharia da esquadra miguelista , o novo almirante Napier toma a iniciativa do ataque lançando-se à abordagem dos navios inimigos . O seu saber de oficial da marinha de guerra inglesa , aliado à sua ousadia e coragem pessoal faz com que a esquadra liberal alcance uma extraordinária e decisiva vitória apresando quatro naus e uma corveta miguelistas . A esquadra realista desaparecera como força naval diminuindo o ânimo das forças apoiantes de D. Miguel tendo em contrapartida um alto efeito moralizador no lado constitucionalista .

No Porto - onde D. Pedro após a demissão de Solignac reassumiu o comando directo das suas tropas sitiadas , tendo a seu lado o general Saldanha como Chefe do Estado-Maior , os miguelistas tentavam tirar vantagem do enfraquecimento da guarnição liberal motivado pela expedição ao Algarve . Assim e por coincidência no mesmo dia 5 em que no cabo de S. Vicente se travará a batalha naval , desencadeiam um fortíssimo ataque no sector noroeste , na zona de Lordelo entre a quinta do Wanzeller e a casa do Plácido, ameaçando cortar as comunicações entre a cidade e a Foz . Simultaneamente o sector norte , junto ao Monte Pedral , é atacado por três colunas realistas que neste local deparam com a resistência originada pela pronta intervenção de Infantaria 9 a qual , com o apoio da bateria instalada no sector , é suficiente para travar e repelir a investida das forças absolutistas .

Já na zona de Lordelo a casa da Fábrica do Antunes , perdida no primeiro embate , é reocupada após um contra-ataque conduzido por quatro companhias de mercenários belgas com o apoio de fogo das baterias da Glória , Ramada Alta e S. Paulo ( localizadas entre o Carvalhido e o Monte Pedral ) que empurram as forças realistas até ao reduto da Quinta da Prelada que tomam , já muito próximo do forte miguelista de Bulgos a uns curtos 500 m , e que ficará definitivamente em posse dos liberais .

Foi nesta zona e neste dia destinguida uma mulher de nome Maria Thereza , casada com um soldado liberal do Reg. de Inf. 15 , que para além de assistir aos feridos e levar água aos soldados empenhados no fogo , transportou para os postos avançados 16 barris de pólvora e, para que os soldados carregassem as espingardas mais rápido lhes mordia os cartuchos . D. Pedro decidiu conceder-lhe soldo por inteiro como a um soldado e até ao fim da campanha , uma ração de viveres .

Pelo fim do dia , os realistas ainda levaram a cabo ataques no sector oriental da linha , contra os redutos das Antas , da Lomba e de Campanhã . Após renhidos combates todos estes ataques foram repelidos pelos liberais .

Em todas as acções do dia os liberais ultrapassaram mais de 200 baixas e os miguelistas perdas estimadas em número superior a 1 000 , em mortos e feridos dos dois lados .
Enquanto entre os liberais o ânimo se ia fortalecendo com as vitórias alcançadas , no campo miguelista a descrença era grande e o moral das tropas muito abalado . A causa absolutista decide-se pelo contrato de um marechal francês Bourmont , notabilizado pela conquista de Argel no norte de África . Chega a 10 de Julho a Portugal , acompanhado de alguns oficiais franceses todos adeptos das ideias realistas e que ocupam altos postos no exército de D. Miguel , e toma de imediato o comando .

Após ter efectuado as inspecções e preparativos que julgou necessários , Bourmont percebeu que não havia tempo a perder . Manda vir da margem sul o máximo de efectivos possível e a 25 de Julho lança o mais violento ataque sobre os sitiados em todo o ano de 1833 . Tal como a 5 desse mês o ataque irá recair sobre a zona de Lordelo , esperando lograr uma profunda penetração da frente liberal por alturas da Quinta do Wanzeller e das fortificações de Lordelo de modo a atingir o mesmo objectivo principal do anterior ataque o corte da ligação da cidade com as posições liberais na zona da Foz .

Empenha na operação 12 000 homens . No assalto às posições na Quinta do Wanzeller ataca com a sua 3ª Divisão , reforçada com a 1ª Brigada da 4ª Divisão . Mais a sul , a 2ª Divisão atacará em duas frentes , no estremo sul a zona do reduto do Pinhel e pelo lado norte a zona da bateria do Outeiro , deixando no centro o reduto do Pasteleiro para ser atacado por um movimento de pinça , pela sua parte de traz . No extremo norte do sector de ataque , na zona de Francos , a 1ª Brigada da 4ª Divisão desencadeia um ataque de diversão , tendente apenas a fixar efectivos liberais com a finalidade de impedir o reforço das tropas liberais sob o ataque principal na Quinta do Wanzeller e na zona envolvente do reduto do Pasteleiro .

A operação tem início às primeiras luzes da madrugada . Posicionado no morro de S. Gens , D. Miguel assiste ao desenrolar do ataque . Uma forte preparação de artilharia abre caminho ao avanço da infantaria e procura , simultaneamente , interditar os itinerários do interior da cidade que possam ser utilizados no deslocamento de reforços para as áreas de Lordelo e da Pasteleira . Logo de seguida , tropas de lanceiros a cavalo carregam sobre as posições que ainda resistem . As primeiras posições liberais a caírem nas mãos dos atacantes são as de Vilar de Francos e todo o casario entre a Prelada e o reduto do Wanzeller . Logo a seguir , os atacantes tomam conta da Fábrica de Chita de Ramalde . Depois , junto ao sólido muro do jardim da Quinta do Wanzeller , são forçados a parar . O obstáculo está bem defendido e só poderia ser ultrapassado com tiros de artilharia pesada .

Contra as posições de Lordelo e do reduto do Pasteleiro os miguelistas não foram menos pertinazes . A posse foi disputada com todo o vigor . Até a celebre Flecha dos Mortos foi tomada e retomada por três vezes pelo regimento miguelista de Infantaria de Cascais , protegido por três esquadrões de cavalaria .

Esclarecida a intenção do atacante , o comando das tropas liberais acciona então as suas forças de reserva que , com a larga experiência de outras situações idênticas , procuram atacar os flancos desprotegidos dos realistas . Da serra do Pilar , o brigadeiro Torres ordena que a sua artilharia abra fogo contra a artilharia inimiga que , do lado de Gaia , apoia o ataque miguelista . Nos diversos sectores travam-se violentos combates a tiro e corpo a corpo de baioneta calada . A cavalaria realista , sempre procurando o local mais aceso dos combates , sofre pesadas perdas em homens e cavalos . Das posições constitucionais de Lordelo , reduto do Pasteleiro e obras fortificadas da quinta do Wanzeller foram sendo rechaçadas as forças miguelistas cujo fogo , começando a afrouxar pelas dez horas da manhã cessou pelo meio dia .

O ímpeto dos atacantes foi esmorecendo e extinguindo-se progressivamente , até que em determinado momento Bourmont , que seguia o ataque do alto do forte de Serralves , não teve outro remédio que não fosse dar ordem de retirada às suas tropas para que recolhessem às suas linhas .

Um outro ataque , secundário , que também neste dia teve lugar no sector oriental entre a Quinta do China e o Bonfim . Alguns dos piquetes constitucionais tiveram de retirar dos postos avançados que ocupavam ; é o próprio general Saldanha que sem tropas de reserva e levado pelo desejo de recuperar os postos perdidos , se põe à frente de uns 20 lanceiros e com eles todos os mais oficiais do seu Estado Maior carrega directamente as tropas miguelistas que se vêem obrigadas à retirada . Nesta carga directa de Saldanha e da sua oficialidade são feridos na luta vários oficiais e morrendo nela o major D. Fernando Xavier de Almeida , com grande mágoa dos seus camaradas . Assim foi repelido este ataque que não logrou qualquer sucesso nem foi determinante como diversão de apoio ao ataque principal a ocidente .

A ilustrar a dificuldade dos liberais em suster tão poderoso ataque do general Bourmont , estão as perdas sofridas : 67 mortos , 211 feridos e 11 aprisionados ou extraviados .


Click to enlarge

Mosteiro da Serra do Pilar Depois do Cerco do Porto

Quanto aos realistas , só nas imediações do Pasteleiro , deixaram no campo mais de 230 mortos e 53 cavalos .
Apesar de diminuto de forças o Duque da Terceira , decide-se pelo avanço sobre Lisboa atravessando o Alentejo sem encontrar oposição senão já muito cerca de Lisboa aonde na zona da Cova da Piedade , a 23 de Julho destroça a cavalaria miguelista que se lhe tentou opor .

Após uma ultima e pequena resistência em Cacilhas o Duque da Terceira entra ano dia seguinte 24 em Lisboa desembarcando no Terreiro do Paço após travessia do Tejo , sem qualquer resistência da guarnição miguelista que tal como no Porto , tinha evacuado a cidade durante a noite .


Últimos Acontecimentos relacionados com o Cerco do Porto e as lutas liberais


26. JULHO 1833 - Partida de D. Pedro do Porto para Lisboa , por mar , deixando Saldanha no comando do exército liberal na defesa da Cidade Invicta e após deixar uma proclamação escrita à população a explicar a razão da sua partida e manifestar o seu elevado apreço pela indomável resistência dos portuenses ao longo de todo o cerco .

27. JULHO - Morticínio dos presos liberais detidos na fortaleza de Estremoz .

9. AGOSTO - No Porto o marechal Bourmont retira para Coimbra , deixando nas posições de cerco 10 000 homens sob o comando do general francês Clouet .

- Reconhecimento do Governo de D. Maria II pela Inglaterra .

16. AGOSTO - O general , conde de Almer , que substituíra Clouet recebe ordens para destruir 17 344 pipas de vinho do Porto e 533 pipas de aguardente vínica dos armazéns da Companhia das Vinhas do Alto Douro na vila de Gaia . O incêndio realizado origina para o País um prejuízo fabuloso no valor , à época , de 2 513 631 $ 541 réis .

17. AGOSTO - O dispositivo realista de cerco ao Porto começa a dar sinais de retirada . As primeiras posições a serem abandonadas são os fortes de Crasto , Ervilha e Serralves no sector poente .

18. AGOSTO - O general Saldanha , comandante em chefe , desencadeia um vigoroso ataque sobre a esquerda realista na zona de Contumil ( zona leste ) aonde se encontravam as principais forças realistas , já que a sua direita estava muito desfalcada de tropas que tinham acompanhado Bourmont na sua retirada para Coimbra .

Saldanha concentra , na noite anterior as suas tropas na zona do Carvalhido e de manhã , num largo movimento envolvente primeiro para norte ( S. Mamede ) e depois para leste , ataca de flanco as posições miguelistas em Contumil . Com ataques simultâneos de frente e de flanco as tropas realistas são completamente derrotadas e , perseguidas pelos lanceiros constitucionalistas , retiram até à zona de Ponte Ferreira .

Esta acção militar é o fim do Cerco do Porto , apesar de ainda remanescerem algumas forças miguelistas a sul do Douro , em Gaia , que a breve prazo também irão retirar .

20. AGOSTO - Os miguelistas retiram da margem sul do Douro . D. Miguel e o seu exército avançam de Coimbra sobre Lisboa .

23. AGOSTO - Pressentindo que a guerra civil mudara de cenário , Saldanha entrega o comando no Porto ao general Stubbs e embarca para Lisboa sem aguardar ordens de D. Pedro. Oficialmente encerrava-se o longo episódio do cerco do Porto .

25 - 26 AGOSTO - Concentração das forças miguelistas em torno de Lisboa .

5 - 14 SETEMBRO - Ataque às linhas constitucionais construídas , de modo idêntico , à volta de Lisboa são repelidas .

19. SETEMBRO - Substituição de Bourmont por MacDonnell no comando do exército miguelista . Ausência total de novos resultados .

21. SETEMBRO - Chegada de D. Maria II ao Tejo , por mar , vinda de França .

Em 27 de MAIO de 1834 é assinada a Convenção de Évora Monte , que encerra a luta entre liberais e absolutistas e aonde fica determinada a partida de D. Miguel para o exílio e o trono é oficialmente entregue à rainha D. Maria II .


Click to enlarge

Combatentes do Cerco do Porto 1832-1833


NOTA IMP. : A base principal de todo este resumo histórico , de natureza pessoal , foi obtida do livro « Cerco do Porto » do coronel David Martelo , editado pela Prefácio .

Mário Ribeiro

BIBLIOGRAFIA :

* História do Cerco do Porto de Luz Soriano
* Portugal Contemporâneo de Oliveira Martins
* O cerco do Porto contado por uma testemunha de Coronel Owen
* Guerra da Sucessão de almirante Carlos Napier
* Reinado de D. Miguel . O cerco do Porto de António Ferrão

INTERNET :

O Portal da História ' Portugal Liberal ' Cronologia do Liberalismo de 1777 a 1926

SITE :
http://www.arqnet.pt/portal/portugal/liberalismo/lib1799.html

PS - « Informam-se os nossos leitores que existe na cidade do Porto um organismo cultural dedicado à marcha , denominado « Grupo Portuense de Montanhismo» que tem realizado passeios pedrestes de visita guiada pelos vários locais históricos aonde se localizavam os fortes e baterias e aos locais onde se travaram os combates mais importantes». Este organismo pode ser contactado pelo seguinte e-mail : gpmontanhismo@clix.pt

Etiquetas: , ,

Escrito por Elise às 7:05 da tarde

2 Comments:

Mais uma crónica, sobre o 'Cerco do Porto', de interesse histórico, cultural e muito mais... do pesquisador atento e amigo Mário Ribeiro.

Beijinhos para ti, Elise! :)
Anonymous Anónimo, at fevereiro 06, 2007 1:21 da tarde  
qzz0619
puma outlet
polo ralph lauren
kate spade outlet
canada goose outlet
ugg outlet
tory burch outlet
adidas crazy
michael kors outlet
audemars piguet watches
lakers jerseys
Blogger Unknown, at junho 19, 2018 4:32 da manhã  

Add a comment