Pesa 10 kgs, adora snacks, confunde o senta com o deita, tem medo de outros cães mas adora pessoas. Quando dá futebol sabe que deve ficar quieto no sofá a roer um osso e não perturbar os donos. Já se habituou ao mini-cascol do Porto e salta de alegria quando gritamos GOLO.
« Informam-se os nossos leitores que existe na cidade do Porto um organismo cultural dedicado à marcha , denominado « Grupo Portuense de Montanhismo» que tem realizado passeios pedrestes de visita guiada pelos vários locais históricos aonde se localizavam os fortes e baterias e aos locais onde se travaram os combates mais importantes». Este organismo pode ser contactado pelo seguinte e-mail : gpmontanhismo@clix.pt
IV - Combates principais travados entre as forças liberais e miguelistas nas Linhas do Porto
8 e 9 de Setembro de 1832
O posto mais avançado de combate do dispositivo liberal a sul do Douro encontrava-se instalado no Alto da Bandeira ( zona do Chafariz dos Arrependidos a 0,5 Km da rotunda de S. Ovídio ) guarnecido pelo Batalhão de Infantaria 6 . A notícia da aproximação de poderosas forças miguelistas vindas do Sul do País fez ocorrer ao local com reforços civis armados o Governador Militar do Porto , ten. coronel Bernardo de Sá Nogueira, futuro Marquês de Sá ( do Alto ) da Bandeira , uma das figuras que se tornariam maiores nesta guerra e que é hoje , simbolicamente, o patrono da nossa actual Academia Militar.
Perante a disparidade das forças em presença e temendo ser envolvido pelas forças inimigas , Infantaria 6 rompe o contacto e retira debaixo de fogo . Neste movimento são feridos gravemente o major que comandava o Batalhão e o próprio Sá da Bandeira que perde o braço direito na luta . Apesar de gravemente ferido continua a comandar a retirada para a Serra do Pilar de forma eficiente e disciplinada . Este estratégico ponto forte será o único a resistir heroicamente durante dois dias de avassaladores ataques miguelistas os quais , alvos dos fogos de artilharia do lado do Porto ( Vitória e Virtudes ) , dos navios liberais fundeados no Douro e ainda dos fogos da bateria do Hospital , inviabilizaram o assalto final . Os combates pela posse da Serra do Pilar foram extremamente violentos e duraram até 11 de SET sem conseguirem desalojar as forças liberais desse morro estratégico , se bem que a partir desta data , Gaia e toda a margem esquerda do rio Douro ficasse na posse das forças realistas , aonde seriam instaladas poderosas baterias de artilharia que iriam massacrar toda a cidade do Porto durante o período de quase um ano , tempo de duração do cerco .
Combates de 16 de Setembro de 1832
Numa zona próxima do perímetro defensivo , frente a Paranhos , o Monte Covelo e um outeiro próximo ( hoje localizado entre as ruas de S. Dinis e do Vale Formoso , frente ao Monte Pedral ) começaram a ser fortificados pelas tropas realistas , uma ameaça perigosa para as linhas liberais . Foi decidida então uma acção ofensiva destinada a destruir as obras já realizadas . Uma força de 1 400 soldados liberais ( Batalhão de Caçadores 5 protegido pelo Batalhão de Infantaria 3 e 10 ) ataca e toma de surpresa a 16 SET as posições em fim de construção e procede à sua imediata demolição . As forças miguelistas reagem e fazem avançar a sua cavalaria , anulando com este seu contra-ataque a tomada da posição já na posse dos liberais e reocupando a posição com 400 homens da sua infantaria .
A situação tornada perigosa para as forças liberais , obriga a planear uma nova investida para retomar o pequeno outeiro , aonde são empenhadas duas companhias de Infantaria 18 , duas de Inf. 3 e duas de Caçadores 2 e cerca de 30 voluntários civis que com assinalada bravura , depois de acesos combates em que a luta corpo-a-corpo foi frequentemente utilizada , levam de vencida as forças realistas que deixam no terreno 30 a 40 mortos ( 2 oficiais ) , idêntico número de feridos , 6 prisioneiros e diverso tipo de munições que abandonaram .
Pelo lado das forças constitucionalistas as baixas também foram pesadas , sobretudo de oficiais em proporção aos soldados mostrando pelo sacrifício da própria vida um elevado exemplo de coragem e desempenho das suas elevadas responsabilidades nas suas posições de comando .
Como resultado desta operação o pequeno outeiro passou , após reposta a sua fortificação , a ser ocupado e guarnecido permanentemente . As medalhas distribuídas por D. Pedro a muitos daqueles que heroicamente se bateram , levou que a posição fortificada desse outeiro se passa-se a denominar por : Reduto das Medalhas .
O Monte Covelo , no entanto , após a destruição das obras de fortificação aí levantadas pelos realistas , não foi guarnecido permanentemente , tendo sido reocupado sem problemas de novo pelas forças realistas . A situação só foi alterada , em favor das forças constitucionalistas , em Abril de 1833 .
Enquanto decorria estas acções de combate frente à zona de Paranhos , em simultâneo , no sector nordeste das linhas e próximo das Antas , as forças sitiantes sob o comando do visconde de Peso da Régua desencadeiam uma forte ofensiva sob as forças liberais compostas nesse local por uma companhia do 3º Batalhão de Infantaria 18 e um piquete de 60 homens , todos sob o comando do coronel Hodjes . O ataque realista foi executado com tal ímpeto , que as forças liberais começaram a ceder . Perante o risco de ruptura da defesa , acorreu ao local uma força composta de uma companhia de Batalhão de Caçadores 12 e pelos granadeiros do Batalhão da Marinha , comandados pelo major Staunton . Este reforço , carrega impetuosamente sobre os militares miguelistas , travando-lhes a progressão e de seguida obrigando-os a retirar , deixando no terreno cerca de 50 baixas entre mortos e feridos . Entre as perdas liberais contava-se a morte do comandante , major Staunton .
Honra aos heróis !
A grande ofensiva de 29 de Setembro de 1832 ( dia de S. Miguel )
A aproximação do dia de S. Miguel decidiu o comandante realista , visconde do Peso da Régua , a tentar um feito digno de celebrar o dia do santo cujo nome era igual ao do seu soberano . Assim mobilizou para esta acção elevados meios materiais e humanos destinados a alcançar uma vitória decisiva , garantindo desta maneira e de um modo definitivo a disputa do trono real . Aguardava também alcançar com a escolha de tal dia , a protecção divina para obter o desejado sucesso na batalha que iria travar-se .
Assim às 06H30 de 29 SET a 1ª Coluna realista , sob o comando do Brig. Magalhães Lemos , vinda de Campanhã , ataca de surpresa e rompe as linhas liberais , entra pelas ruas da cidade chegando até à zona do Prado do Repouso . Batidas pelo fogo da artilharia e da infantaria miguelistas , as tropas liberais estacionadas no sector de Campanhã iniciam a retirada . Para felicidade da causa constitucional , acontece um choque trágico entre tropas realistas devido a um equívoco fortuito . O 2ª Batalhão do Novo Regimento de Infantaria de Lisboa , perante o sucesso do desenrolar das operações, recebe ordem para sair de Gaia e dirigir-se para a zona de combate , atravessando o rio Douro . Acontece que este batalhão tinha recebido fardamento novo com barretinas «à francesa» , desconhecido ainda pelas tropas realistas em combate . Ao vislumbrar os reflexos do brilho do sol nas chapas metálicas que encimavam as barretinas dos soldados que à distância se aproximavam , as tropas miguelistas das Milícias da Figueira da Foz empenhadas na luta , supondo tratar-se de uma força francesa ao serviço de D. Pedro , decide abrir caminho a tiro causando logo no embate 39 baixas entre mortos e feridos no Reg. de Infantaria de Lisboa que os vinha apoiar . Este terrível equívoco foi de imediato aproveitado pelas forças liberais para reconstituir as sua defesas perante a desorientação que lavrava no campo adversário . Assim na zona do Prado de Repouso aonde 300 a 400 miguelistas já se tinham infiltrado , foram o alvo de contra-ataques das reservas liberais que empenharam na luta directa todo o pequeno corpo de guias , estacionado no largo do Bonfim , tendo originado combates particularmente violentos , com actos do maior heroísmo de ambos os lados . A rua do Prado aonde estas lutas directas foram travadas , mudou o seu nome para R. 29 de Setembro e mais tarde , em homenagem aos bravos que aí se bateram e aí caíram, para R. do Heroísmo que ainda hoje se mantém .
Enquanto o ataque mais importante decorria no extremo oriental da linha liberal , outros dois ataques foram desencadeados para fixar as forças liberais impedindo-as de ocorrer à zona de Campanhã . Um por uma coluna realista proveniente da altura das Antas que atacou a linha liberal na zona do Cativo , Bonfim e Fojo e uma outra coluna , proveniente de Norte , que atacou o dispositivo de defesa liberal frente ao Monte Pedral . Tal como sucedera na zona de Campanhã as forças liberais cederam à investida realistas , mas antes que estas consolidassem posições , contra-ataques vigorosos de reforços liberais obrigaram os realistas a abandonar as posições recém-conquistadas .
Pelas 15H30 a maior parte das posições liberais estavam reocupadas pelos sitiados . A ultima acção do dia destinou-se a desalojar a força realista que se havia fixado na baixa frente ao Cativo . Pelas 16H00 uma coluna liberal sob comando do Ten-Cor. Pacheco retoma o sector do Cativo .
Pelas 17H00 as forças absolutistas desmoralizadas tinham recolhido às suas linhas com 4000 baixas das quais 117 oficiais .
Ataque de 14 de Outubro de 1832 à posição liberal na Serra do Pilar
A posição da Serra do Pilar , posição de grande valor estratégico face à cidade do Porto , estava sob comando do brigadeiro Torres e era alvo prioritário dos chefes realistas que tomaram a decisão de a atacar em força . Como preparação para o ataque frontal , desde as 06H00 da manhã do dia 13 um bombardeamento intenso de fogo de artilharia ir-se-à prolongar até às 14H00 do dia 14 preparando o terreno para o ataque das tropas de assalto miguelistas às trincheiras de defesa dos liberais . Neste intervalo de tempo foram disparadas mais de 3 000 projecteis de artilharia e morteiro (obuses).
Pelas 15H15 do dia 14 , entendendo os realistas que o animo dos defensores estaria quebrantado , uma força de 5 000 homens divididos por três colunas iniciam o ataque aos extremos e ao centro das posições liberais fortificadas da Serra do Pilar . Do lado do Porto , quando a infantaria atacante cai dentro do alcance das baterias liberais do Seminário , das Fontaínhas e da Vitória , estas despejam os seus projecteis sobre as colunas inimigas empenhadas no assalto . A coluna central sob comando do realista brigadeiro Magalhães Peixoto carrega por cinco vezes sem sucesso sobre o reduto da Serra , aonde as tropas do brigadeiro Torres se aguentam com bravura causando um elevado numero de baixas nos atacantes . Decide-se então conduzir um ultimo assalto que se considera decisivo . À testa da força atacante , o 1º Batalhão de Caçadores da Beira Baixa , depois de valorosa carga à baioneta consegue atingir as trincheiras dos defensores da Serra , embora à custa de terríveis perdas . Quando a vitória está prestes a ser alcançada , é ferido gravemente o brigadeiro Magalhães Peixoto desorientando o campo miguelista que, ao ver-se privado do seu comando não tarda a fazer soar o toque de retirada .
Já durante a noite , ainda do mesmo dia 14 , o exército de D. Miguel leva a cabo com idêntico insucesso , um derradeiro ataque ao inexpugnável reduto liberal deixando os defensores da Serra cobertos de glória e o terreno circunvizinho juncado de armas , feridos e cadáveres em número superior a 600 incluindo o brigadeiro Peixoto que veio a falecer em Gaia dos graves ferimentos sofridos . Entre os defensores também , percentualmente , as perdas foram pesadas : 69 homens entre os quais 5 oficiais .
Foto obtida do livro Cerco do Porto do coronel David Martelo, editado pela editora Prefácio
Desde esta data a Serra do Pilar ficou tão segura nas mãos dos constitucionais como já ficara a cidade do Porto após a batalha de 29 de Setembro . D. Pedro I que com todo o seu Estado- Maior , tinha assistido em ponto sobranceiro da cidade a todo o desenrolar da batalha , após a vitória atribuiu ao brigadeiro Silva Torres a promoção a general e o titulo de Oficial da Ordem da Torre e Espada .
Alterações no comando das forças em presença
As pesadas derrotas de 29 SET e de 14 OUT levaram os realistas a desistir dos assaltos directos às posições liberais . A partir de então procuram apertar as linhas de cerco criando e fortificando uma linha sua de defesa paralela à linha liberal . isolando a cidade e procurando a sua rendição pela fome , ao mesmo tempo que a sujeitavam a intensas acções de flagelação com artilharia pesada , com projecteis de grande calibre dos quais se irá destacar os lançados pelo canhão-obus PAIXHANS .
Esta postura imobilista e passiva por parte dos realistas vai levar D. Pedro a uma mudança de estratégia contemplando agora acções de desgaste sobre as linhas dos sitiantes miguelistas .
Assim D. Pedro começa a pensar que a melhor solução para o comando das suas tropas sitiadas seria entregá-lo ao general João Carlos de Saldanha ( futuro Marechal Duque de Saldanha ) . Assim para preparar o regresso de Saldanha decide , em Outubro , exonerar o conde de Vila Flor do comando das tropas do Porto ( compensando-o no entanto com a atribuição do titulo de Duque da Terceira ) e entretanto toma ele próprio a condução das operações militares .
Face a uma série de desaires operacionais aquando do seu comando directo , decide D. Pedro mandar contratar um general francês , Jean Solignac , antigo general das campanhas napoleónicas , que assume de imediato o comando após chegar ao Porto a 1 JAN 1833 . O seu carácter intempestivo acaba por levar à sua demissão e sua substituição pelo gen. Saldanha a 13 de Junho . Neste mesmo dia é também demitido o almirante Sartorius , comandante da esquadra naval liberal desde a estadia dos liberais na ilha Terceira nos Açores e que será substituído pelo almirante Charles Napier . Este homem do mar irá ter um papel fundamental no triunfo e na vitória das forças constitucionais de bandeira bicolor , azul e branca , com escudo central rubro e ouro .
A 28 de Janeiro de 1833 chegara do exílio João de Saldanha que se junta às tropas no Porto sendo-lhe atribuído o comando do sector poente da cidade ( zona da Foz ) . Torna-se o principal conselheiro militar de D. Pedro recebendo no mesmo mês o titulo de Conde de Saldanha . É nomeado Chefe do Estado Maior a 13 de Junho substituindo Solignac. ( Será Marquês em Maio de 34 , Duque em Maio de 55 e morrerá em 1876 como Marechal - Duque , embaixador de Portugal em Londres ) .
Como as condições da população da cidade se ia agravando pela fome reinante , agravada pela epidemia da cólera que atingiu a cidade em FEV de 1833 , tornava-se essencial proteger a entrada de abastecimentos pela barra do Douro o que levou Saldanha a construir um prolongamento da linha de defesa liberal para a zona da Foz . o que fez reforçando as fortificações na área do Pasteleiro e erguendo novas linhas de defesa de entrincheiramento , novos redutos , fortins e baterias .
Da parte realista também se irão proceder a substituições . Responsabilizado pelo insucesso do cerco do Porto o Visconde do Peso da Régua é demitido e substituído no comando das tropas realistas pelo general Santa Marta . D. Miguel sentindo que o desânimo se apoderava das suas tropas sai de sua corte em Lisboa e após uma breve passagem e estadia em Braga , fixa residência em Leça do Balio para se encontrar próximo das suas tropas que sitiavam o Porto .
Face ao movimento de construções defensivas na área do Pasteleiro e da Foz os chefes militares realistas começaram a contestar a atitude passiva de Santa Marta , levando D. Miguel a proceder a nova substituição no comando o qual será entregue ao conde de S. Lourenço , António Silva e Menezes , fervoroso partidário do retorno à ofensiva .
De Outubro de 1832 a Agosto de 1833
Surtidas liberais às posições realistas :
Dia 14 de NOVEMBRO
Por necessidades financeiras para comprar e pagar os apoios contraídos em Inglaterra , foi decidido por D. Pedro , agora no comando das operações , e pelo Estado-Maior liberal a realização de uma surtida fora do perímetro de defesa tentando apoderar-se da maior quantidade possível de Vinho do Porto existente à data nos armazéns de Gaia . Assim a 14 NOV um corpo de 1 600 homens , sob o comando do coronel Schwalbach atravessa o Douro frente à Quinta da China , contando com o apoio de 600 homens de Inf. 18 saídos da Serra do Pilar . O ataque de surpresa às posições realistas tem um sucesso inicial permitindo destruir algumas fortificações , porem à medida que os realistas se recompunham e lançavam no campo de luta efectivos superiores , a força liberal é repelida serra abaixo , retirando para a cidade e deixando no terreno 20 mortos ,44 feridos e 30 prisioneiros .
Dia 17 de NOVEMBRO
Apesar dos maus resultados da primeira surtida insiste D. Pedro , numa nova surtida de reconhecimento a 17 NOV sobre as estradas de Valongo e S. Cosme . Esta surtida era apoiada por um ataque de diversão às forças realistas na zona de Paranhos e das Antas .
A manobra principal foi de novo entregue ao coronel Schwalbach e tudo correu de modo semelhante ao anterior . Sucesso inicial sobre as posições adversárias , seguida de retirada com baixas significativas : 25 mortos , 144 feridos e 5 desaparecidos nos combates .
Estas surtidas à chamada « Terra de Ninguém » era seguida com grande curiosidade pela população que antecipando o espectáculo , se aglomerava em pontos altos o que alertava os vigias miguelistas para o ataque que se preparava .
Dia 28 de NOVEMBRO
Insistindo no erro , a 28 NOV , nova surtida é levada a efeito , desta vez sobre a zona do Padrão da Légua , sobre o sector defendido pela 2ª Divisão realista . D. Pedro organiza uma poderosa força de 5 000 homens , um esforço considerável face aos efectivos disponíveis .
Os piquetes avançados inimigos retiraram de imediato face às forças liberais . Entusiasmadas com este pequeno sucesso , avançam pela « terra de ninguém » entre as duas linhas de defesa até que começam a ser batidas pelo fogo das posições principais realistas não contando elas próprias com apoio de fogo de campanha . Começa a instalar-se o pânico entre atrevidos assaltantes muito afastados já das suas posições amigas e em risco de serem envolvidos pela cavalaria inimiga a qualquer momento e impedidos de regressar ao Porto . Nesta altura , tal como acontecia com as tropas absolutistas , faltaram às tropas liberais empenhadas no ataque chefes militares com conhecimentos tácticos para conduzirem acções militares de ataque como aquela em que estavam envolvidas .
De facto as forças atacantes liberais caiem sob a acção de dois esquadrões do Regimento de Cavalaria de Chaves , os quais lhes causam baixas elevadas , obrigando - as à retirada e a recolher às suas linhas , deixando no campo 272 mortos e feridos . Era o terceiro insucesso neste mês de Novembro .
Dia 17 de Dezembro
Neste dia , no campo absolutista decorria uma visita-revista às posições das tropas realistas pelo próprio D. Miguel . Coincidência ou não , decidira o comando liberal uma nova surtida , no lado oposto aonde se realizava a revista militar, aos armazéns de Gaia do vinho do Porto , com a finalidade de resgatar o maior número de pipas para abastecimento dos sitiados e possível fonte de valor económico para venda ao estrangeiro .
Saindo da zona da Alfândega e atravessando o Douro em pequenos barcos , as tropas liberais surpreenderam os piquetes realistas e rapidamente chegaram aos armazéns aonde conseguiram ainda apoderar-se de 60 pipas de vinho , algum azeite e milho . Enquanto transportavam e carregavam foram confrontados com o 1º Batalhão de Caçadores da Beira Alta que ocorrera ao local e que com apoio de outras unidades realistas carregaram sobre a pequena testa de ponte liberal na margem de Gaia . A recolha desta pequena quantidade de abastecimentos acabou por custar às força liberais 15 mortos , 56 feridos e 3 desaparecidos .
EPIDEMIA DE CÓLERA no PORTO de JAN a AGT de 1833
Face à ineficiência das suas acções , em fins de 1832 tinha mandado D. Pedro procurar em França um general francês para ser nomeado chefe do exército liberal . Foi contratado o general barão Jean Solignac , antigo general das campanhas de Napoleão Bonaparte , que desembarca na Foz a 1 JAN 1833 trazendo consigo um contigente de 200 soldados belgas .
Para infortúnio dos habitantes da cidade , eram estes soldados portadores do vírus da cólera que rapidamente se espalhou pela população , causando um elevado número de mortes . Apesar de medidas enérgicas de sanidade apenas se conseguiu debelar a epidemia em Agosto .
As primeiras medidas de Solignac foi a suspensão das surtidas ao campo adversário que se tinham mostrado mais prejudiciais do que benéficas . Reorganizou o exército mandou arrasar fossos e trincheiras existentes nas ruas interiores da cidade por desnecessárias , facilitando a vida à sua população . Considerando que as posições realistas no Castelo do Queijo e no Monte do Crasto eram uma séria ameaça aos barcos que tentavam entrar à Barra do rio , decide uma acção ofensiva aqueles redutos com apoio da artilharia dos navios liberais sob comando do almirante George Sartorius .
Ofensiva Liberal frustada a 24 de JAN sobre o Forte no monte do Crasto e sobre o Castelo do Queijo
Este reduto do Crasto localizado no sector ocidental era um bom objectivo estratégico , desde que o ataque utiliza-se o efeito surpresa e efectivos atacantes em número adequado , já que os realistas teriam de percorrer uma distância elevada para deslocar as suas reservas de tropas .
À hora do ataque porém a esquadra liberal de Sartorius que devia bombardear e em golpe de mão tomar o castelo do Queijo , se bem que à vista , pairava bastante a Sul da posição correcta para proporcionar apoio adequado à operação . Em terra o ataque liberal inicia-se com forte tiroteio de infantaria sobre os piquetes realistas da Fonte da Moura , Serralves e Passos . Outra coluna progride sobre o forte do Crastro , conseguindo desalojar as forças miguelistas desta estratégica posição que é tomada pelos liberais . Neste intervalo a coluna de ataque que deveria estar a atacar pelo flanco norte atrasa-se , permitindo que o comandante realista , marechal de campo Teles Jordão lança todas as suas forças nessa zona , 1º de Infantaria de Elvas e as unidades das 2ª e 3ª Brigadas de reserva estacionadas em Padrão da Légua , Senhora da Hora e Ramalde em reforço na batalha , atacando a ala direita liberal empenhada em combate na zona de Serralves .
Deste modo a pressão atacante liberal foi perdendo intensidade à medida que os realistas iam empenhando cada vez mais forças na defesa das suas posições , acabando por ser determinado o regresso das unidades liberais às suas linhas . Assim foi perdida a oportunidade de conservar o valioso e já tomado reduto do Forte no Monte do Crastro , depois do sacrifício entre mortos e feridos de 257 soldados liberais .
O general francês atribuiu o fracasso da ofensiva ao facto de ter sido o próprio D. Pedro o responsável pelo atraso da saída da coluna liberal pelo flanco norte e que se destinava a travar o movimento realista , o qual sem entraves acabou por ser executado anulando o sucesso da operação liberal . Este assumiu o erro , prometendo não voltar a intervir mas de facto este desaire fez cair o prestigio e empalidecer a estrela da fortuna de Solignac e originar-lhe criticas que iriam conduzir à sua posterior demissão a 13 de Junho .
Ataque Realista a 4 de MAR aos Redutos do Pinhal e da Pasteleira
O reforço das fortificações liberais na zona do Pasteleiro decididas pelo gen. Saldanha comandante deste sector , gerara grande controvérsia no campo miguelista que criticava duramente a atitude passiva do comandante - chefe visconde de Santa Marta , que substituíra em OUT de 1832 o visconde do Peso da Régua , cuja estratégia de derrotar as forças liberais a rendição destas pela fome e pelo bombardeamento sistemático da cidade , aprisionada por um anel fortemente fortificado , paralelo à linha de defesa liberal e dela separada por uma « terra de ninguém » que variava entre uma distância de 200 a 500 m no sector poente ( zona da Foz até Serralves ) até 2 500 m pela velha estrada de Braga, entre o forte liberal no monte Pedral e a linha miguelista em S. Mamede de Infesta .
Esta estratégia de bons resultados militares , comprovada pelas derrotas liberais em todas as surtidas realizadas e pelo falhanço da tomada de posse do Monte de Crasto , exigia no entanto tempo e muita paciência para colher resultados . A ânsia de glória e as obras liberais de reforço no Pasteleiro criaram as condições necessárias para que a intriga dos militares na corte de D. Miguel vencesse . Este , também impaciente , decide-se pela substituição em 24 de FEV , de Santa Marta pelo conde de S. Lourenço , António José de Silva e Menezes , fervoroso partidário do retorno à ofensiva .
Assim a 4 de Março , desencadeia um violento ataque aos redutos liberais do Pinhal e do Pasteleiro cujas novas posições admitia ainda não estarem guarnecidas de artilharia . Prevenidos de véspera da decisão do ataque , Saldanha na noite de 3 para 4 faz instalar no reduto do Pinhal um destacamento de Inf. 10 e algumas bocas de fogo carregadas com «lanternetas» . De igual modo guarnece o reduto do Pasteleiro com um destacamento de Inf. 3 e o forte da Luz com o 1º Batalhão Móvel . Em reserva encontrava-se Infantaria 9 na zona de Lordelo e o destacamento de « riflemen » do major Shaw .
Os realistas atacam pela manhã de 4 com a 2ª Div. da 1ª Brigada , cuja testa era constituída pelo 1º de Caçadores da Beira-Baixa . Confiantes nas suas informações quanto à ausência de artilharia avançam até à esplanada do reduto a conquistar . Uma salva de artilharia dos defensores com as «lanternetas» varre as fileiras , provocando pesadas baixas na primeira onda de assalto . O forte da Luz colabora na defesa das posições liberais disparando foguetes incendiários «Congrève» uma novidade nos campos de batalha . Depois de um primeiro recuo , os homens da 1ª e 4ª Brigada reorganizam-se e voltam a atacar os seus objectivos , os redutos do Pinhal e do Pasteleiro . Com redutos tão bem defendidos , quem ataca .... perde .
Tal como nos ataques liberais às forças atacantes nada mais resta que não seja retornar para as posições donde tinham partido .
O Ataque dos realistas ao monte das Antas a 24 de Março
Pela parte norte do Porto os realistas procuravam incessantemente estudar todas as elevações do terreno onde pudessem construir as suas baterias , para não deixar na cidade um só ponto que não pudesse ser alvo de bombardeamento . A bela posição do monte das Antas seria tão ameaçadora e terrível para a zona norte da cidade como pela parte sul estava a ser a bateria miguelista de Gaia .
Aquele monte estava ocupado por um simples piquete constitucional , mas D. Pedro ordena na noite de 23 de Março , o levantamento de uma trincheira para começo de fortificações de maior vulto . Apercebendo-se de tal os realistas e para evitar um mal maior , o conde de S. Lourenço decide-se pelo ataque imediato às obras dos liberais . Pelas 11H00 da manhã de domingo 24 inicia-se o ataque pela 4ª Brigada realista com o 1º Regimento de Inf. de Chaves ao monte das Antas . O piquete liberal de Caçadores 5 submergidos pela força atacante foge , sendo de imediato destruídos os entrincheiramentos já realizados . Não podiam no entanto desistir os liberais daquela estratégica posição . Assim pelas 15H00 D. Pedro decide-se a retomar o monte que lhe servira de posto avançado, agora ocupado por forças realistas em número de 6 000.
Este posto avançado localizava-se isoladamente 1 000 m à frente do ponto mais próximo da linha de defesa dos liberais , localizado aonde é hoje o cruzamento da R. da Constituição com a R. Santos Pousada . O monte das Antas , erguia os seus altos pontos ( 155 , 156 e 153 m) entre os hoje campos do clube Vigorosa e a zona norte do 1º estádio do F. C. do Porto ( à hoje R. das Cavadas ) .
NOTA : Posteriormente à definitiva posse do monte das Antas foi construído o reduto da Bela Vista , 500m a sul , que se localizava no chamado Monte Aventino ( altitude de 157 m ) que nos tempos de hoje já foi terminal das vagonetas aéreas que traziam o carvão das minas de S. Pedro da Cova para a cidade do Porto e posteriormente local de um quartel da G.N.R. . Hoje é jardim público .
Para este efeito faz sair pela estrada de Valongo uma coluna composta por destacamentos de Infantaria 9 e 10 e do Batalhão da Marinha que deveria atacar o sector esquerdo dos realistas estacionado no monte . Pela vertente ocidental do monte ( sector direito realista ) os liberais atacam com o Batalhão de Caçadores 5 de um modo fulgurante a crista das Antas apoiados pelo ataque simultâneo do lado oposto pela coluna proveniente da estrada de Valongo . Os realistas abandonam o monte recuando para o terreno plano aonde hoje se localiza o Bairro de Costa Cabral , esperando atrair os liberais para uma zona propícia à sua cavalaria já que tinham o seu Regimento de Cavalaria de Chaves pronto a actuar . Estes porém não caíram nessa armadilha , optando pela simples reocupação das elevações do monte das Antas . Face ao impasse os realistas decidem-se por um contra-ataque fazendo avançar o seu Regimento Provisório logo de seguida reforçado pelo seu 2º Batalhão de Caçadores , travando-se um combate memorável de baioneta calada e arma branca . O resultado irá pender momentaneamente em favor das forças realistas , que de novo se apossam do monte das Antas .
Pelas 19H00 o comandante-em-chefe Solignac determina ao Duque da Terceira a reconquista da posição . O novo contra - ataque liberal é levado a cabo pelas colunas comandadas pelo coronel Schwalbach e coronel Silva Pereira . O ataque é desencadeado com extraordinário ímpeto , com a coluna de Schwalbach atacando pela esquerda e a de Silva Pereira pela direita . Do Bonfim marcham reforços para se empenharem no combate das Antas . Após combates encarniçados que se prolongaram pela noite dentro , as tropas realistas pelas 23H00 recebem ordem de retirada deixando na posse dos liberais está estratégica posição que estes irão manter até ao fim do cerco .
NOTA : O comandante do Batalhão de Caçadores 5 , coronel Silva Pereira , pelos actos de bravura que cometeu na tomada deste monte será agraciado por D. Pedro com o titulo de barão das Antas e mais tarde , de conde do mesmo nome .
Tomada do Monte Covelo em 9 e 10 de ABRIL de 1833
Após o grande combate das Antas , a intensidade das operações militares realistas decaem na razão inversa em que intensificam os seus bombardeamentos à cidade . A bateria realista mais destruidora localizava-se no Castelo de Gaia , numa elevação fronteira à zona da Alfândega no Porto . No campo liberal havia quem entendesse arriscar a conquista desta elevação mas D. Pedro , face à sua desastrada experiência anterior , nunca acedeu a desencadear tal operação .
Em contrapartida , para manter as suas tropas activas , decide tentar a conquista do monte Covelo ( hoje é a Quinta do Covelo ) frente a Paranhos , ocupado por destacamentos miguelistas de Infantaria 12 e 13 , Regimento de Milícias e do Batalhão de Voluntários . A operação é desencadeada a 9 de Abril , após rigoroso segredo , sob comando do Duque da Terceira e com a utilização de duas colunas : uma , constituída por destacamentos de Infantaria 9 e de Caçadores 12 deslocou-se pela estrada da Cruz das Regateiras ( hoje R. de Costa Cabral ) ; a outra com tropas de Infantaria 3 e 10 pela estrada do Sério ( hoje R. do Vale Formoso ) .
Avançando disfarçadamente a coberto de muros e caminhos desenfiados da vista do monte , as tropas de Infantaria 10 sob comando do coronel José Joaquim Pacheco atacam de surpresa as tropas miguelistas que ocupavam o monte Covelo , que nem dez minutos de resistência conseguem oferecer aos assaltantes liberais . Logo no dia seguinte , porém , os realistas tentam por duas vezes retomar a posição perdida em contra - ataque utilizando as forças afugentadas agora reforçadas com as forças de Infantaria 7 , 19 e 22 . Travam - se intensos combates nos quais as tropas liberais sob comando do coronel Pacheco se batem com rara bravura , sofrendo 197 baixas mas sem que as tropas realistas conseguissem desalojá-los das alturas do monte Covelo . Ulteriores tentativas realistas de assalto fraquejaram de igual modo , mantendo-se a posição transformada em forte reduto , em posse dos liberais até final do cerco .
NOTA : O acção heróica deste militar é destinguida ainda hoje pela cidade do Porto que na sua toponímia atribuiu o nome de Coronel Pacheco a uma praça , a uma rua e a uma travessa (na freguesia de Cedofeita) .
A conquista desta posição é a marca final de um período de grande actividade militar e o esgotamento da confiança , ajudada pela intriga sempre presente nos altos comandos liberais, de D. Pedro no general francês Solignac que se virá , mais tarde , substituído pelo general Saldanha no comando .
Em Maio de 1833 as deserções do campo miguelista para o liberal e o reforço por tropas mercenárias estrangeiras fizeram subir os efectivos liberais para 18 000 homens dos quais 300 a cavalo .
O almirante Napier e a expedição ao Algarve
Em Junho de 1833 tinha-se atingido o impasse entre os dois campos em luta . Solignac , ainda no comando , achava que não tinha sido contratado para tal inactividade . Após cuidada análise da situação apresenta a D. Pedro duas propostas de alcance estratégico : a primeira , uma operação de grande envergadura tendo por finalidade a ruptura do cerco ; a outra , uma expedição naval com 5 000 homens destinada a atacar Lisboa , a capital do reino .
Estas propostas deram origem a vivas discussões entre ao conselheiros directos de D. Pedro , que achavam de elevado risco qualquer das propostas e em particular a segunda . O que veio a ser aprovado , no entanto , foi mesmo uma acção por via marítima , com uma força muito menor que deveria desembarcar no Algarve .
Perante esta decisão , Solignac pede a sua demissão que é de imediato aceite por D. Pedro , para grande satisfação de muitos dos seus conselheiros que há muito vinham criticando e intrigando o general francês . Entretanto também fora demitido o almirante Sartorius de comandante-chefe da esquadra naval liberal , sendo substituído no comando por um capitão-de-mar-e-guerra Charles Napier, contratado em Inglaterra . É promovido por D. Pedro a vice-almirante e toma o comando da esquadra liberal que irá transportar e desembarcar um corpo de 2 500 homens no Algarve , constituído por Regimentos de Infantaria 3 e 6 , Batalhões de Caçadores 2 e 3 , Batalhão do Regimento de Infantaria Ligeira da Rainha ( franceses ) e ainda um destacamento de artilharia de campanha .
O corpo expedicionário , sob o comando do Duque da Terceira , a 24 JUN desembarca em Alagoa e sem qualquer oposição , face à surpresa total causada no campo miguelista , ocupa Tavira apoderando-se do controle da costa algarvia . Estaciona em Loulé , meditando sobre as dificuldades de sair do Algarve com uma força tão pequena , até porque se bem recebidas as tropas pela população algarvia o entusiasmo para pegar em armas contra D. Manuel era manifestamente reduzido em face das ameaças latentes em caso de derrota das diminutas forças liberais . Um factor vai porém surgir que irá dar um rumo definitivo à guerra : a esquadra miguelista , fundeada no Tejo , faz-se ao mar logo que em Lisboa se toma conhecimento do desembarque dos liberais no Algarve .
Batalha Naval no Cabo de S. Vicente a 5 de JULHO de 1833
A frota miguelista vai encontrar a força naval liberal frente ao cabo de S. Vicente , extremo ocidental da costa algarvia junto à Ponta de Sagres . Apesar da inferioridade da esquadra liberal , 6 navios com 176 peças de artilharia contra 10 barcos e 372 peças de artilharia da esquadra miguelista , o novo almirante Napier toma a iniciativa do ataque lançando-se à abordagem dos navios inimigos . O seu saber de oficial da marinha de guerra inglesa , aliado à sua ousadia e coragem pessoal faz com que a esquadra liberal alcance uma extraordinária e decisiva vitória apresando quatro naus e uma corveta miguelistas . A esquadra realista desaparecera como força naval diminuindo o ânimo das forças apoiantes de D. Miguel tendo em contrapartida um alto efeito moralizador no lado constitucionalista .
Derradeiros combates nas Linhas de Defesa do Porto
Combates de 5 de Julho
No Porto - onde D. Pedro após a demissão de Solignac reassumiu o comando directo das suas tropas sitiadas , tendo a seu lado o general Saldanha como Chefe do Estado-Maior , os miguelistas tentavam tirar vantagem do enfraquecimento da guarnição liberal motivado pela expedição ao Algarve . Assim e por coincidência no mesmo dia 5 em que no cabo de S. Vicente se travará a batalha naval , desencadeiam um fortíssimo ataque no sector noroeste , na zona de Lordelo entre a quinta do Wanzeller e a casa do Plácido, ameaçando cortar as comunicações entre a cidade e a Foz . Simultaneamente o sector norte , junto ao Monte Pedral , é atacado por três colunas realistas que neste local deparam com a resistência originada pela pronta intervenção de Infantaria 9 a qual , com o apoio da bateria instalada no sector , é suficiente para travar e repelir a investida das forças absolutistas .
Já na zona de Lordelo a casa da Fábrica do Antunes , perdida no primeiro embate , é reocupada após um contra-ataque conduzido por quatro companhias de mercenários belgas com o apoio de fogo das baterias da Glória , Ramada Alta e S. Paulo ( localizadas entre o Carvalhido e o Monte Pedral ) que empurram as forças realistas até ao reduto da Quinta da Prelada que tomam , já muito próximo do forte miguelista de Bulgos a uns curtos 500 m , e que ficará definitivamente em posse dos liberais .
Foi nesta zona e neste dia destinguida uma mulher de nome Maria Thereza , casada com um soldado liberal do Reg. de Inf. 15 , que para além de assistir aos feridos e levar água aos soldados empenhados no fogo , transportou para os postos avançados 16 barris de pólvora e, para que os soldados carregassem as espingardas mais rápido lhes mordia os cartuchos . D. Pedro decidiu conceder-lhe soldo por inteiro como a um soldado e até ao fim da campanha , uma ração de viveres .
Pelo fim do dia , os realistas ainda levaram a cabo ataques no sector oriental da linha , contra os redutos das Antas , da Lomba e de Campanhã . Após renhidos combates todos estes ataques foram repelidos pelos liberais .
Em todas as acções do dia os liberais ultrapassaram mais de 200 baixas e os miguelistas perdas estimadas em número superior a 1 000 , em mortos e feridos dos dois lados .
Combates de 25 de JULHO
Enquanto entre os liberais o ânimo se ia fortalecendo com as vitórias alcançadas , no campo miguelista a descrença era grande e o moral das tropas muito abalado . A causa absolutista decide-se pelo contrato de um marechal francês Bourmont , notabilizado pela conquista de Argel no norte de África . Chega a 10 de Julho a Portugal , acompanhado de alguns oficiais franceses todos adeptos das ideias realistas e que ocupam altos postos no exército de D. Miguel , e toma de imediato o comando .
Após ter efectuado as inspecções e preparativos que julgou necessários , Bourmont percebeu que não havia tempo a perder . Manda vir da margem sul o máximo de efectivos possível e a 25 de Julho lança o mais violento ataque sobre os sitiados em todo o ano de 1833 . Tal como a 5 desse mês o ataque irá recair sobre a zona de Lordelo , esperando lograr uma profunda penetração da frente liberal por alturas da Quinta do Wanzeller e das fortificações de Lordelo de modo a atingir o mesmo objectivo principal do anterior ataque o corte da ligação da cidade com as posições liberais na zona da Foz .
Empenha na operação 12 000 homens . No assalto às posições na Quinta do Wanzeller ataca com a sua 3ª Divisão , reforçada com a 1ª Brigada da 4ª Divisão . Mais a sul , a 2ª Divisão atacará em duas frentes , no estremo sul a zona do reduto do Pinhel e pelo lado norte a zona da bateria do Outeiro , deixando no centro o reduto do Pasteleiro para ser atacado por um movimento de pinça , pela sua parte de traz . No extremo norte do sector de ataque , na zona de Francos , a 1ª Brigada da 4ª Divisão desencadeia um ataque de diversão , tendente apenas a fixar efectivos liberais com a finalidade de impedir o reforço das tropas liberais sob o ataque principal na Quinta do Wanzeller e na zona envolvente do reduto do Pasteleiro .
A operação tem início às primeiras luzes da madrugada . Posicionado no morro de S. Gens , D. Miguel assiste ao desenrolar do ataque . Uma forte preparação de artilharia abre caminho ao avanço da infantaria e procura , simultaneamente , interditar os itinerários do interior da cidade que possam ser utilizados no deslocamento de reforços para as áreas de Lordelo e da Pasteleira . Logo de seguida , tropas de lanceiros a cavalo carregam sobre as posições que ainda resistem . As primeiras posições liberais a caírem nas mãos dos atacantes são as de Vilar de Francos e todo o casario entre a Prelada e o reduto do Wanzeller . Logo a seguir , os atacantes tomam conta da Fábrica de Chita de Ramalde . Depois , junto ao sólido muro do jardim da Quinta do Wanzeller , são forçados a parar . O obstáculo está bem defendido e só poderia ser ultrapassado com tiros de artilharia pesada .
Contra as posições de Lordelo e do reduto do Pasteleiro os miguelistas não foram menos pertinazes . A posse foi disputada com todo o vigor . Até a celebre Flecha dos Mortos foi tomada e retomada por três vezes pelo regimento miguelista de Infantaria de Cascais , protegido por três esquadrões de cavalaria .
Esclarecida a intenção do atacante , o comando das tropas liberais acciona então as suas forças de reserva que , com a larga experiência de outras situações idênticas , procuram atacar os flancos desprotegidos dos realistas . Da serra do Pilar , o brigadeiro Torres ordena que a sua artilharia abra fogo contra a artilharia inimiga que , do lado de Gaia , apoia o ataque miguelista . Nos diversos sectores travam-se violentos combates a tiro e corpo a corpo de baioneta calada . A cavalaria realista , sempre procurando o local mais aceso dos combates , sofre pesadas perdas em homens e cavalos . Das posições constitucionais de Lordelo , reduto do Pasteleiro e obras fortificadas da quinta do Wanzeller foram sendo rechaçadas as forças miguelistas cujo fogo , começando a afrouxar pelas dez horas da manhã cessou pelo meio dia .
O ímpeto dos atacantes foi esmorecendo e extinguindo-se progressivamente , até que em determinado momento Bourmont , que seguia o ataque do alto do forte de Serralves , não teve outro remédio que não fosse dar ordem de retirada às suas tropas para que recolhessem às suas linhas .
Um outro ataque , secundário , que também neste dia teve lugar no sector oriental entre a Quinta do China e o Bonfim . Alguns dos piquetes constitucionais tiveram de retirar dos postos avançados que ocupavam ; é o próprio general Saldanha que sem tropas de reserva e levado pelo desejo de recuperar os postos perdidos , se põe à frente de uns 20 lanceiros e com eles todos os mais oficiais do seu Estado Maior carrega directamente as tropas miguelistas que se vêem obrigadas à retirada . Nesta carga directa de Saldanha e da sua oficialidade são feridos na luta vários oficiais e morrendo nela o major D. Fernando Xavier de Almeida , com grande mágoa dos seus camaradas . Assim foi repelido este ataque que não logrou qualquer sucesso nem foi determinante como diversão de apoio ao ataque principal a ocidente .
A ilustrar a dificuldade dos liberais em suster tão poderoso ataque do general Bourmont , estão as perdas sofridas : 67 mortos , 211 feridos e 11 aprisionados ou extraviados .
Quanto aos realistas , só nas imediações do Pasteleiro , deixaram no campo mais de 230 mortos e 53 cavalos .
Marcha para Lisboa do Corpo Expedicionário Liberal desembarcado no Algarve
Apesar de diminuto de forças o Duque da Terceira , decide-se pelo avanço sobre Lisboa atravessando o Alentejo sem encontrar oposição senão já muito cerca de Lisboa aonde na zona da Cova da Piedade , a 23 de Julho destroça a cavalaria miguelista que se lhe tentou opor .
Após uma ultima e pequena resistência em Cacilhas o Duque da Terceira entra ano dia seguinte 24 em Lisboa desembarcando no Terreiro do Paço após travessia do Tejo , sem qualquer resistência da guarnição miguelista que tal como no Porto , tinha evacuado a cidade durante a noite .
Últimos Acontecimentos relacionados com o Cerco do Porto e as lutas liberais
26. JULHO 1833 - Partida de D. Pedro do Porto para Lisboa , por mar , deixando Saldanha no comando do exército liberal na defesa da Cidade Invicta e após deixar uma proclamação escrita à população a explicar a razão da sua partida e manifestar o seu elevado apreço pela indomável resistência dos portuenses ao longo de todo o cerco .
27. JULHO - Morticínio dos presos liberais detidos na fortaleza de Estremoz .
9. AGOSTO - No Porto o marechal Bourmont retira para Coimbra , deixando nas posições de cerco 10 000 homens sob o comando do general francês Clouet .
- Reconhecimento do Governo de D. Maria II pela Inglaterra .
16. AGOSTO - O general , conde de Almer , que substituíra Clouet recebe ordens para destruir 17 344 pipas de vinho do Porto e 533 pipas de aguardente vínica dos armazéns da Companhia das Vinhas do Alto Douro na vila de Gaia . O incêndio realizado origina para o País um prejuízo fabuloso no valor , à época , de 2 513 631 $ 541 réis .
17. AGOSTO - O dispositivo realista de cerco ao Porto começa a dar sinais de retirada . As primeiras posições a serem abandonadas são os fortes de Crasto , Ervilha e Serralves no sector poente .
18. AGOSTO - O general Saldanha , comandante em chefe , desencadeia um vigoroso ataque sobre a esquerda realista na zona de Contumil ( zona leste ) aonde se encontravam as principais forças realistas , já que a sua direita estava muito desfalcada de tropas que tinham acompanhado Bourmont na sua retirada para Coimbra .
Saldanha concentra , na noite anterior as suas tropas na zona do Carvalhido e de manhã , num largo movimento envolvente primeiro para norte ( S. Mamede ) e depois para leste , ataca de flanco as posições miguelistas em Contumil . Com ataques simultâneos de frente e de flanco as tropas realistas são completamente derrotadas e , perseguidas pelos lanceiros constitucionalistas , retiram até à zona de Ponte Ferreira .
Esta acção militar é o fim do Cerco do Porto , apesar de ainda remanescerem algumas forças miguelistas a sul do Douro , em Gaia , que a breve prazo também irão retirar .
20. AGOSTO - Os miguelistas retiram da margem sul do Douro . D. Miguel e o seu exército avançam de Coimbra sobre Lisboa .
23. AGOSTO - Pressentindo que a guerra civil mudara de cenário , Saldanha entrega o comando no Porto ao general Stubbs e embarca para Lisboa sem aguardar ordens de D. Pedro. Oficialmente encerrava-se o longo episódio do cerco do Porto .
25 - 26 AGOSTO - Concentração das forças miguelistas em torno de Lisboa .
5 - 14 SETEMBRO - Ataque às linhas constitucionais construídas , de modo idêntico , à volta de Lisboa são repelidas .
19. SETEMBRO - Substituição de Bourmont por MacDonnell no comando do exército miguelista . Ausência total de novos resultados .
21. SETEMBRO - Chegada de D. Maria II ao Tejo , por mar , vinda de França .
Em 27 de MAIO de 1834 é assinada a Convenção de Évora Monte , que encerra a luta entre liberais e absolutistas e aonde fica determinada a partida de D. Miguel para o exílio e o trono é oficialmente entregue à rainha D. Maria II .
NOTA IMP. : A base principal de todo este resumo histórico , de natureza pessoal , foi obtida do livro « Cerco do Porto » do coronel David Martelo , editado pela Prefácio .
Mário Ribeiro
BIBLIOGRAFIA :
* História do Cerco do Porto de Luz Soriano * Portugal Contemporâneo de Oliveira Martins * O cerco do Porto contado por uma testemunha de Coronel Owen * Guerra da Sucessão de almirante Carlos Napier * Reinado de D. Miguel . O cerco do Porto de António Ferrão
INTERNET :
O Portal da História ' Portugal Liberal ' Cronologia do Liberalismo de 1777 a 1926
PS - « Informam-se os nossos leitores que existe na cidade do Porto um organismo cultural dedicado à marcha , denominado « Grupo Portuense de Montanhismo» que tem realizado passeios pedrestes de visita guiada pelos vários locais históricos aonde se localizavam os fortes e baterias e aos locais onde se travaram os combates mais importantes». Este organismo pode ser contactado pelo seguinte e-mail :gpmontanhismo@clix.pt