Exmº Senhor
Presidente da Concelhia de Lisboa
de "um" Partido Político
LISBOA
Lisboa, Julho de 2005
Assunto: Se não posso intervir, mais vale ir-me embora
Exmº Senhor Presidente,
Sou eleitor da Freguesia de Alvalade, Lisboa. Correspondi oportunamente ao convite preenchendo e enviando o impresso através do qual me disponibilizava para trabalhar nas próximas eleições autárquicas.
Compareci a uma reunião concelhia na qual tentei que se discutisse o conteúdo de propostas concretas para os eleitores da minha freguesia. Com paternalismo e simpatia, aconselharam-me a estar calado, pois que em breve se iriam promover reuniões por freguesia nas quais, então e só então, se tratariam desses conteúdos.
Não mais fui convocado, até á reunião de aprovação das listas ocorrida a semana passada. Mas nessa noite, nem cheguei a votar. Vim-me embora. Ofuscado com o brilho de tanta gravata esticada na direcção do lugar almejado.
E agora venho pedir a minha desvinculação partidária.
Acredite quem quiser, mas nunca estive preocupado em integrar qualquer lista, à excepção talvez do simbólico e inofensivo último lugar. Simbólico porque demonstrativo do meu compromisso, inofensivo porque não ocuparia lugares que, pelos vistos, são tão disputados.
Ingenuamente pensei que poderia dar o meu contributo a um programa eleitoral e, desse modo, influenciar o futuro próximo dos meus 3 filhos e o lugar físico onde os estou a criar – a freguesia de Alvalade.
A minha única “ambição política” traduz-se em fechar ao transito automóvel a avenida de Roma – Praça de Londres / Rotunda da Estátua de Santo António – aos domingos de manhã e promover o exercício do ciclismo.
Pôr pais, avós, filhos e netos a andar de bicicleta todos os domingos de manhã na Avenida de Roma. As vantagens da prática do exercício físico, o negócio das pastelarias, dos restaurantes e das lojas da avenida e contíguas, a poluição automóvel a ser interrompida durante uma manhã em cada sete dias. Apenas isto.
Em contactos informais recolhi boa recepção por parte dos comerciantes – alguns afirmaram que poderiam abrir o seu comércio ao domingo, só para aproveitar o fluxo de pessoas.
Adivinha-se o apoio institucional das Fundações e Associações de Cardiologia, de Pneumologia, do Instituto do Desporto, da Federação de Cicloturismo, de todas as entidades que promovem o desporto de massas como condição de melhoria da saúde pública.
De certeza que se arranjariam uns patrocínios de uma Cola qualquer ou de outros mais habituais no ciclismo profissional que a troco de publicidade suportariam o custo do policiamento – neste campo nada pesquisei, mas não custa adivinhar.
Enfim, todos os vizinhos com quem tenho falado sobre o assunto, aceitam com entusiasmo a ideia. Bem como suportariam com amabilidade o incómodo de não utilizar o automóvel ao domingo de manhã.
Enfim, segundo a opinião das pessoas que tenho contactado, trazer para a avenida de Roma a “marginal de Oeiras sem carros” é uma óptima ideia.
Aqueles que me conhecem da militância cicloturística – medida pelos 7.000 Km anuais que faço em bicicleta – acham que seria viável uma operação comunitária deste tipo até pelos contactos privilegiados de que disponho “no meio das bicicletas” e, sobretudo, pelo mérito da iniciativa.
Mas o meu Partido não me quis ouvir. Fechado no seu método de criação de listas, optou por arrumar candidatos em vez de discutir programas.
E, assim, em termos de actividade partidária o mais que posso ambicionar, com realismo, para o dia da votação será uma convocatória de véspera para representar o Partido numa das mesas eleitorais. E como terei que declinar, porque prefiro de longe aproveitar esse dia para andar de bicicleta, mais vale despedir-me agora do Partido do que ser obrigado a violar, mais tarde, um dever de colaboração estatutário.
Não sei se é perante o Presidente da Concelhia de Lisboa que deva solicitar a minha desvinculação enquanto militante do Partido. E convenhamos que estou desiludido em demasia para me dar ao trabalho de ir consultar os Estatutos.
Vou tentar influenciar o futuro dos meus filhos noutro lado. Não noutro partido. Mas talvez noutro país, onde eu tenha possibilidade de me expressar enquanto cidadão empenhado e consciente dos deveres da minha paternidade e da minha cidadania.
Com os melhores cumprimentos
Atentamente
carneiro, militante nº 007